Poemas : 

Construção inútil #.#.#

 
.









Construção inútil




Não sei por que construo poemas
Se tal ofício
Pouco ou nada me faz feliz.

Dinheiro, nem pensar.
Leitores nobres é uma raridade.
Portanto não ficarei rico,
Estou bem certo investimento.

Mas serve bem
Para incomodar minha paz.
Abro janelas que vão dar
Na intimidade de minha alma.

Intimidade escancarada
Que eu mesmo pouco vejo,
Mas que todos irão meter o bedelho.

Quero dizer,
Meia dúzia de gatos pingados
À beira do harikiri,
Por pura falta do que fazer.
Mas eu serei o último a saber de mim mesmo.

Então por que escrevo poemas?

Trabalho inútil,
Não mata a fome de ninguém,
Não tira as crianças das ruas,
Não tira ninguém de lugar nenhum
E, absolutamente, nada se move.

No entanto continuo
Costurando palavras no papel,
Como as velhas rendeiras
Que, aliás, são exploradas.

O pior é chegar ao final do poema
Que não quer terminar.
E fica este olhar de besta,
Olhando, olhando...

Esperando o inaudito?
Inaudito e... inútil.









Milton Filho/01.09.12

 
Autor
Srimilton
Autor
 
Texto
Data
Leituras
907
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
4 pontos
4
0
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
MarySSantos
Publicado: 25/11/2013 11:30  Atualizado: 25/11/2013 11:30
Usuário desde: 06/06/2012
Localidade: Macapá/Amapá - Brasil
Mensagens: 5848
 Re: Construção inútil #.#.#
construir poemas é como ficar
jogando pedrinhas n'água
entre uma ondinha e outra
uma indagação ou uma
invasão em nossa própria
privacidade, aí surge as inquietações...
e damos atividades
pras mãos... é como jogar
pedrinhas n'água.

meu café da manhã foi bem
servido. obrigada

beijos, Milton


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 25/11/2013 12:15  Atualizado: 25/11/2013 12:16
 Re: Construção inútil #.#.#
.
.
.
Então por que escrevo poemas?


me "...serve bem
Para incomodar minha paz.
Abro janelas que vão dar
Na intimidade de minha alma
."

e também pra te incomodar; ao que digo, que continuadamente extinguiremos com as mãos calejadas;

"...Costurando palavras no papel,
Como as velhas rendeiras
Que, aliás, são exploradas.
"

assim como somos explorados pela maldita poesia...



beijão irmão e um carioquíssimo abraço meu.