Não havia glória nos candelabros do deserto,
entretanto, o gosto de areia forrava a boca,
atravessando pontes, pulando altos portões,
cantando vibrante, em bemol, hinos de batalha,
sob aplausos dos desempregados que rugiam.
Nada mais poderia ser recuperado,
do mundo atolado na curvatura do óculos,
da carne humana desfiada em notas fúnebres,
enquanto atoleiros de charnecas e lamaçais
deixavam os transeuntes com dificuldades
para transitarem até o final das próprias vidas,
desde a adolescência desgarrada sem escol.
Dias a fio e noite sem número corriam céleres,
tubos e vidros esterilizados recebiam reclamações
sobre o cheiro de sangue e estrume no paraíso.
Jardineiro suado e magro como tela de Chagall,
usando pás e dentes adensados mecânicos
meditava sobre tudo cofiando a barba em caracóis.
A vida se consumiu e a fonte jorrante secou,
não havia mais violinos nem vinho nos odres,
afrescos em pastel desfaziam-se em linho,
quando a matilha de vira latas revirou o jardim.
Com certeza, não havia mais a honra dos espadachins,
nem de samurais sobreviventes brandindo katanas.
Poderia ser o paraíso não contivesse contendas,
mas mesmo quando despido de conchas nacaradas,
sequer um castiçal sustentava bruxuleante vela.
- Foi tudo em vão. A paixão das ostras enferrujadas
não resistiu aos incêndios das florestas tropicais
nem à explosão da matéria que matou Nobel.
Mesmo assim, desfeitos, caminhavam como por vale,
de lágrimas dolorosas, fustigados pela lama hórrida,
ouvindo ao longe zumbindo tiros de bombardina.
Então, choravam lamentando o degredo,
silenciando todos somente ao amanhecer.
Bem sabem que não vale a pena apagar a vela
nem consagrar uma chama ao diabo,
melhor meter a corcunda num saco de gatos.
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