Crónicas :
O REFLEXO!... FICÇÃO OU REALIDADE?
Uma folha de papel vazia de letras ou desenhos é uma mera passarela de vermes, insetos e impurezas, desde que fique estática em qualquer base que a sustente, muito embora ela seja, constantemente, movimentada pelas aragens circunvizinhas, entretanto... Ela se transforma totalmente ao receber em seu bojo de superfície os vocábulos sujeitos às mais diferenciadas interpretações do leitor, em quaisquer que sejam às línguas ali transmitidas ao sabor de quem saiba entendê-las, podendo, assim, serem benéficas, maléficas, comerciais (ou não), de instruções, parvos, eruditos ou vulgares, finalmente: ela só é o reflexo do que possa conter! Entretanto, mesmo ela sendo tão diversificada na sua amostragem, pior seria ignorá-la totalmente sem divisar o seu conteúdo por pior que seja ele.
Quando o Homem ignora qualquer coisa que se lhes apresente de bom ou de ruim, ele nada mais é do que a mesma folha de papel sem transmitir ou apreender nada de útil, ficando estático sobre a “mesa” da vida. Enquanto a humanidade, em sua individualidade, insistir em não tomar conhecimento das coisas que o cercam nesta ilha que é a terra em que reside por empréstimo, ela se transformará em um mero conjunto de carnes, ossos, membros, órgãos etc. a vegetar pelos caminhos da vida, nada vendo, nada entendendo e nada ajudando a si próprio ou aos seus irmãos de jornada.
Nós, só daremos valor meritório a algum evento utilizando o nosso trabalho físico ou mental e... Participando integralmente ou, nas suas arestas, porém... Fazendo parte!
O nosso desinteresse pleno ou mesmo parcial de qualquer coisa que não entendemos, não procuramos saber o que é, ou nos colocamos à margem, pode nos causar muito mal e nos atolar na ignorância crassa, com isso e, por isso, muitas descobertas deixaram de vir à luz, muitas soluções se perderam nos seus meandros aglutinados da informação colocada à nossa frente e não verificada, vivificada, seguida ou desprezada.
Ao Ser Humano foi-lhe dada à inteligência para destacá-lo em evidência dos seus “irmãos” animais, ditos irracionais, entretanto, é preciso que o Homem observe, pesquise, se ilustre, aprenda apreendendo, participe do bem inteiramente e sem desprezar o “Mal”, todavia, extraindo-lhe o sumo no sentido de não lhe seguir os passos errôneos e enganadores à procura das benesses que ele oferece no intuito de nos escravizar, todavia, se não tomarmos conhecimento das coisas ruins nunca poderemos dar valor e “movimento” aos bons ditames a caminho da moral ilibada, exemplar e sem as manchas da soberba e da jactância.
No universo, criado pelo “Arquiteto Divino”, sempre haverá o contencioso ou os lados opostos, justamente para os seus filhos escolherem à vontade o seu itinerário para Ele, de livre e espontânea vontade individual, nessas condições, dentre milhares de outras, Deus nos permitiu perceber a Realidade e a ficção, científica, ou não.
A realidade é facilmente comprovada ao ser destrinchada dos seus acompanhamentos às “farpas e fiapos” ilusórios ou utópicos, ficando plenamente viável, observável e aceitável como verdade fidedigna, mas...
Com a ficção os caminhos são outros! Não há, comumente, a prática e o aprendizado acadêmico, o tirocínio escolar ou o trabalho, quaisquer que sejam às profissões envolvidas ela estará sempre flutuando sobre os seres viventes, agindo tal e qual um espelho que tenha sido lhe retirado o fundo que destacava o reflexo do que lhe fora colocado à sua frente; pode ser uma corrente de águas mansas negaceando na correnteza impetuosa dos rios, ou uma sombra esvaecida consumida por uma claridade cegante, porém, a ficção sempre estará interligada a realidade sem divergir da sua clarividência ou se mostrar livre e altaneira, perambula, ombro a ombro, com o estável sem se fazer de instável e é razão de ser da própria veracidade por lhe dar o respaldo da dúvida e da controvérsia.
Escrever ficção é muito mais difícil do que estribar-se nos compêndios, escolaridade, saber culto, ou a experiência dos anos vividos escrevendo, dessa forma, a realidade para o escritor de ficção ele só terá por respaldo e orientação e direção extraída da sua própria mente e destilando o conteúdo para as passarelas dos papéis, até então, inertes e nada constando, a cada linha resultante da sua procura mental, os vocábulos vão criando vida real sem sombrear ou fazer frente à realidade, apenas se inserindo no meio à procura de quem tenha a aceitação do imprevisível ou do imponderável e que possa deles extrair muita coisa inverossímil, contudo, discutível e rico em nuanças diferentes do ordinário, assim, enriquecendo o seu lazer que é o inimigo número um do stress.
A ficção é a razão de ser e de estar da realidade, sem ela o nosso cotidiano se transformaria em uma miscelânea de imagens e objetos com destino predeterminado e por alguém anteriormente especificado, orientando e determinando, o que não nos permitiria o contencioso ou mesmo a disputa salutar, assim, seria o manancial que não pode escapar do seu leito ou o vento brando tipo zéfiro que tem que prosseguir para onde foi propelido.
Sempre que ocorre o “anormal” intrometendo-se no que imaginamos ser irretocável e não modificável, em razão da mesmice que nos invade desde os primeiros anos de vida, a nossa reação primeira é não aceitar a intromissão parecendo sem fundamentos como o que conhecemos, se o observador for como a folha de papel inerte, ele não dará importância ao evento “estranho” e continuará estático vendo sem ver e recusando-se a sentir a novidade, entretanto, sendo ele um estudioso ou uma pessoa que gosta de analisar e pesquisar a novidade discordante da sua realidade e, lhe imposta! Acabará por ver às luzes e as emanações da “coisa nova” que não sabe ainda explicar, no final da sua observação começará a sentir e ver que é a ficção se inserindo em seu saber para melhorá-lo, ilustrá-lo e fazendo parte da “casca” ao lado da realidade palpável sem, contudo, ter a matéria como a conhecemos.
O “estresse” é a mesmice que, quase sempre, se enraíza em nós nos tolhendo o raciocínio ideal o empanando, sendo fruto da realidade atual e do mercantilismo selvagem do cotidiano da nossa subsistência física ou mental, todavia, o ser humano que souber contrabalançar tal situação navegando em cabotagem nas águas mansas (ou não) da ficção, saberá colher um linimento ficcional adequado a equilibrar o que observa como real e o que pressente como irreal, porém, possível de existir e até de lhe amealhar, para, num futuro próximo ou longínquo, lhe dar os meios e as condições do equilíbrio perene entre a realidade (que o sufoca) e a ficção que lhe dá o respaldo para continuar pelos “caminhos da vida até o portal de ultrapassagem”.
Em todo esse prefácio, pelo menos até agora, foi necessária a prolixidade em razão da dificuldade de se explicar o que é uma ficção se tornando realidade.
Numa história amplamente repleta de coisas imaginárias mescladas às realidades, fica difícil ao seu autor ao menos tentar convencer o leitor de que o que ocorre pode acontecer no momento atual e real, todavia, também fica quase impossível se provar o contrário, principalmente se considerarmos que estamos vivendo no presente e gerando o futuro sem um “ultra-som” que nos possa indicar o que veremos ou ouviremos no porvir, futuro esse que poderá ser até mais fantasioso do que a ficção ora apresentada.
Se houver dúvida, imagine-se no século imediatamente anterior ao último, diversificando sobre teoria atômica, computação e seus assemelhados, trem bala, aviões supersônicos, antibióticos, operações complicadas no cérebro e até no útero, armamentos potentes, viagens estelares, satélites etc., num século ou período que mal conhecia a pólvora, o condigo Morse ou os seus sucedâneos mais próximos.
Uma Chave que se preze terá sempre uma dupla função: A de abrir alguma coisa ou... Fechar!
Às suas duas atribuições pode parecer antagônicas ante um observador precipitado ou inepto, entretanto, num exame criterioso e idôneo de um observador capaz (daqueles que dissecam tudo que lhes apresentarem como ponto passivo de entendimento pleno e, anteriormente, aceito), Ele entenderá que não haverá duplicidade antagônica numa Chave que abre e fecha algo, simplesmente, pelo fato de cada ação ser completa em si própria sem deixar lacunas para a outra função específica.
Quando abrimos qualquer coisa, descortinamos o seu interior e, quando fechamos, nos é vedado o que foi lacrado, todavia, não é a Chave que atua e, sim, o seu manuseador! De forma idêntica, ou aparente, uma arma de fogo não atira e um computador não computa sem uma mente ou mão a manejá-los ou, os programar.
Dessa maneira, ouso dizer, sem receio de errar ou parecer um parvo ou ateu, que, seguindo essa minha linha de raciocínio, poderemos equiparar várias situações, dentre elas, às seguintes:
—A realidade nada valerá sem a ficção para destacá-la ou, divergir, sem comprovação estilizada ou escolarizada no tirocínio atual, bem como, a ficção de nada servirá sem a realidade para dar-lhe o contencioso veraz, ou não!
—Deus, Todo Poderoso e Arquiteto do Universo! Não quis destruir o demônio ou o “Mal”, justamente para não formar hostes de robôs a lhe dizerem “Amém!”, preferiu que os seus filhos viessem a escolher o “Caminho para Ele” optando entre o “Bem” e o “Mal”.
—Satanás, totalmente sem Deus, perderá todo o seu poder maléfico senão tiver um adepto sequer e, para conseguir a platéia, utiliza a ficção que não tiver o respaldo ou a orientação da realidade pura e indiscutível.
—“Uma maçã podre colocará o cesto a perder” se não tiver um “Cesteiro” que saiba usar a realidade e a ficção para o Bem, dessa forma, separando às ruins das boas e dando a cada uma o destino que o seu discernimento achar melhor, porém, nunca ficando com os podres!
—Os bandidos, em vários lugares, se sobressaem em relação aos bons e honestos, exatamente pelo fato de ser permitida a “mistura do podre com o são”, principalmente nas prisões e pontos defectos longe da “Luz da virtude”.
Este texto é ficção! Contudo... Será realmente?
(aa.) Sebastião A. BARACHO
conanbaracho@uol.com.br.
Vale do Aço/MG.
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