"...É tarde, o sono não vem na noite maculada por oneroso labéu,
a morte não me levou, deixou jazer, mas destruiu-me a vida..."
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vida mantida para morrer em vida
Deus ignorava as maldades havidas, tantas eram as ossadas,
as portas dos cemitérios abriram-se para abrigar os mortos.
Satanás não me quis, não segui essa via com meus camaradas,
sequer pela porta de trás, por transversos caminhos tortos .
É tarde, o sono não vem na noite maculada por oneroso labéu,
a morte não me levou, deixou jazer, mas destruiu-me a vida.
Estaria melhor entre cruzes, mirando os ícones do mausoléu,
sob o pálido luar, o brilho opaco de estrelas, visão esmaecida.
Suave inclinação marca a entrada do cemitério rente ao portal;
tenho muitos camaradas aqui enterrados, jazem num memorial,
entre restos de crepe, flores secas e rota seda desfalecida.
Não conseguiria ler todos nomes e datas nas lapides gravados,
vi a todos, um a um caminhando para a morte, a ela destinados;
a mim poupou, para que morresse vivendo, manteve-me a vida.
" ...descrevo sem fazer desfeita,
meu sofrer e meus amores
não preciso de receita
muito menos prescritores."