À média luz, todo o corpo de Jenny revestia-se de curvas perfeitas, aflorava-se na pele uma fragrância distante, inatingível, solta de correias de pudor. Poderia ser “la vie en rose” mas preferiu “la bohème”. Deitar-se numa tela em branco seria o local ideal para expor os delírios de um amor invulgar, qualquer um seria sempre diferente, desde que os olhos nunca se desvendassem. Sempre detestou as proporções, nunca se adaptou à simplicidade da vida, viver presa ao corpo seria condená-la à morte. Entregou-se por completo ao êxtase, ao prazer, viver dentro da loucura era o ponto ideal de qualquer realidade incerta. A sede de provar o infindo gosto da pele sabia-lhe a ousadia, era no clítoris que definia o orgasmo dos seus gestos.
Entrou na Paradise Garage, o olhar enigmático tornava-a numa predadora, pediu um safari de morango e soltou-se na pista, balançando o corpo ao som dos “Muse”, à sua volta os olhares devoravam-na independentemente dos sexos.
Conceição Bernardino