O Espírito...
Suada, coração aos pulos, a menina subia os degraus de dois em dois, finalmente chegou ao quarto cheirando a mofo e cera. Sobre uma cama antiga, estava o corpo da mulher com uma vela nas mãos, e cercada por pessoas que choravam. Enfiou-se por entre elas para ver de perto a cena.
Correra tanto, para encontrar Dona Fininha, morta. Curiosa, perguntou se fazia muito tempo que ela morrera, uma velhota respondeu:- Agorinha. - A menina pensou; que falta de sorte, mas mesmo assim, ficou investigando se haveria algum pombo por ali, não viu nada... Desapontada saiu sem ser percebida, precisava correr até em casa, pois certamente o almoço já fora servido e sua mãe não gostava de esquentar comida, ela teria de contentar com um prato frio... Já era a terceira pessoa que ela tivera noticia que estava nas últimas e sempre chegava atrasada, estava quase desistindo... No dia anterior a decepção fora ainda maior. Falaram que o seu José não passaria daquele dia, e ela ao sair da escola dera um jeito de ir até lá. A casa dele ficava no alto e de longe já se enxergava as janelas, grandes, sempre abertas, a entrada da casa era do lado, pelo alpendre, mas estava fechada. E ela não conseguia alcançar a janela para ver o que ocorria lá dentro. Pegou dois tijolos que estavam ali perto e fez um degrau para ficar mais alta. Se equilibrando na ponta dos pés agarrou o portal e se deparou com uma cena Dantesca. De pé, completamente nu, ao lado de uma bacia grande, seu José se apoiava numa cadeira enquanto sua mulher esfregava um pano por todo seu corpo. Ela ficou como que hipnotizada olhando aquele corpo velho, todo enrugado. De alguma forma o homem percebeu que alguém o olhava, pois se voltou aos gritos. - Sai daí menina danada. Vou contar pra sua mãe... – Com o susto ela se desequilibrou caindo pesadamente, arranhado os joelhos. De longe ainda ouvia os gritos do homem. Ah! Aquele ainda demoraria muito pra morrer... A outra foi um anjinho, uma menina de cabelos claro, tão magrinha, devia ter uns dois anos. Quando chegou a casa, a mãe da criança a confundiu com outra menina que ao que parece tinha ido pedir flores para enfeitar o caixão, teve que fingir que não conseguira as flores. A mulher ficou mais triste, ainda...
No dia seguinte estava na aula, quando a diretora, entrou avisando que sua colega, Tininha, precisava ir para casa, pois a vó dela, estava nas últimas... Zuleica quase não acreditou será que agora ela conseguiria ver finalmente o que sua prima Cléo lhe assegurara. Esperta pediu a professora para ir junto com Tininha. A professora sem saber de suas intenções até a elogiou, dizendo que ela era uma boa amiga. Que era assim que todos deveriam agir quando em situação semelhante. As duas saíram rapidamente e Zuleica foi fazendo perguntas a colega, se a vó, já estava doente há muito tempo, se era velha, essas coisas... Chegaram a casa de Tininha onde algumas pessoas aguardavam silenciosas, o desfecho.
Zuleica se esgueirou junto com a colega até o quarto, onde encontrou a mãe de Tininha se debulhando em lágrimas. A mulher pegou as duas meninas pelas mãos e as levou até o leito.
Zuleika quase desmaiou olhando aquela velha senhora que de boca aberta tentava respirar soltando gemidos que não pareciam humanos. Apesar do medo se manteve firme, mas quando num último engasgar a velha finalmente morreu, pois para os mais experientes ela já não respirava, colocaram até um espelho a menina não viu mais nada, a não ser o alivio naquele rosto sofrido. Sem entender o estava ocorrendo perguntou pra mãe de Tininha: O espírito já saiu? Como se não vi o pombinho? Uma senhora ao lado curiosa quis saber o porquê, da pergunta da menina. – É que minha prima Cléo me falou, que quando uma pessoa morre, o Espírito sai e se ela for boa uma pombinha branca sobe aos céus e se ela for ruim a pomba fica no meio das pessoas sem ter pra onde ir... A mulher sorriu diante da ingenuidade da menina e falou. – Filha nós não podemos desvendar os segredos de Deus, e certamente sua prima estava lhe pregando uma peça.
Jacydenatal
18/11/213
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