ALGAZARRA NA CAPOEIRA
Sempre em constante alvoroço
Estão ali dentro no galinheiro,
Os pintos levantam o pescoço
E não pedem senão dinheiro!
Dinheiro, mas para quê?,
Diz-lhes a mãe aperaltada.
O seu brilho só se vê
Nas mãos de gente afamada!
Eu sim, já sou senhora,
Já posso ter tal vintém,
E não esperem pela demora
Serei mais rica que ninguém!
Por isso não me incomodem,
Deixem-me acabar esta malha,
E não voltem cá, que podem
Despertar a atenção da canalha!
A algazarra era tal,
Que nem assim se entendiam,
Foi preciso vir o pai galo
Para ver o que faziam!
A sua crista vinha a tremer,
E majestoso o seu andar,
E pela maneira do seu parecer
Viu-se bem que ia falar!
-Ó filhos rabugentos, daninhos,
Depressa para a cama dormir,
Ai daquele que saia do ninho
Sem primeiro, licença pedir.
E àquele que transgredir
Não lhe direi absolutamente nada,
Mas ninguém me pode impedir
De lhe dar uma grande bicada!
E agora que já tudo disse,
Desapareçam depressa daqui!
Não houve quem não o ouvisse,
Os pintos já não estavam ali!
Dirigiu-se então à galinha
Que muito bem se aprumava
E falou-lhe como a uma tolinha
Para ver quem era que ganhava!
-Ó tu, inconstante criatura,
Que não sabes qual o teu dever,
Se em vez de olhares à usura,
Olhasses o que devias fazer!
E então só para enganar
Pões-te a fazer essa renda,
Dei conta depois de casar,
Mas saíste-me uma tal prenda!
E agora vou eu dormir,
Que mais hei-de eu fazer?
Com esta malta a pedir
Aquilo que eu não quero saber!...
(crítica a determinadas famílias que existem à nossa volta)
Manuela Matos
Escrever é uma terapia...