Como sentir que estou vivo
Como ainda perceber que respiro
São coisas que não vêm no livro que lemos
E todos o lemos quando nascemos
O milagre da vida, fruto de dois diferentes
Amor transformado em seres inteligentes
De um apenas, multiplicar-se por centenas
Moléculas que criam braços, corpos, pernas
E nascer, tudo é sinónimo de sofrer
A dor de cair, sem ainda se aperceber
Perder aquele espaço, aquele intervalo
Onde tudo fazia sentido, sem qualquer abalo
E a primeira golfada, fria e cruel
Sabe a dor e agonia, sabe a puro fel
Pulmões, é a vossa vez de brilhar
Respirar para depois gritar, chorar sem parar
Nasci, sobrevivi, estou aqui…
E tu que me abrigaste, chamo agora por ti
Mas não me podes ouvir, nem mais sentir
Pois para eu nascer tiveste tu que partir
O milagre da vida, fruto de dois diferentes
Viveu um, para enfrentar angústias crescentes
O outro.., não resistiu, abandonou-se inerte, imuto
Cruel destino, sem sequer ver do seu amor, o fruto