Ontem à noite ouvi um grito
Ecoou em mim, partiu de mim
A minha alma chorou assim
Invejoso fruto de ser proscrito
Grito que o tudo provoca, tudo o que grito
Alma fugida de mim abandonada, de mim fugida Alma
Lamento deste sofredor que não conhece senão a dor
Que procura a paz mas sem nunca dela ser capaz
Que ainda assim escolhe a luz, entre as trevas sem fim
Que grita com a alma porque apenas assim acalma…
O animal que farejando vive agora deambulando
Pelas florestas verdes da esperança abandonada
Adamastor sempre errante, no cabo bojador
Moldando as marés da alma emprisionada
Mas e quando o gritar já também ele não chegar
Quanto tudo parecer que não vale mais viver
A isso não vou chegar, pois não quero abandonar
Ser cobarde e perder, não poder na vida mais crescer
O grito da Alma é o inicio
Do fim de tudo o que não é nada
Daquilo que escurece na noite iluminada
Da fome saciada, que dorme acordada
Do ego que energiza, renascido do nada
Procurando salvar da vida abandonada
A alma que bendita, suporta este suplicio
Felizmente tenho-te a ti, que és tudo para mim
O grito cala-se agora por fim, mudo pelo amor
Que estancou humildemente a pomposa dor
Que me trouxe um pouco de paz, até que enfim!