Porque fitas tu a morte
como se olhasses a Vida no firmamento?!
Sempre a repensar, sempre a remoer ...
Aí, estático, incolome, parado,
permaneces a meio-do-tempo, frente à morte!
Qual "esfinge" adormecida,
imponente no deserto - em espera!
Estranho suspense em que te encontro.
Gelado pensamento que te possui.
Passar a Vida a pensar na morte é coisa imensa,
mas esquecer na morte de viver a Vida
é coisa pouca, loucura intensa, coisa triste,
oca, intima doença! Porque a morte é Vida afinal!
E assim estás! Possuido pela morte sem Vida,
"condenado" a uma Eterna Vida morta ...
Que angustia! Que desespero ...
Eternamente prisioneiro do pensamento!
Assim os Deuses o ditaram - teus falsos Deuses!
Que triste Fado o teu! E porque te vejo e sinto,
quando passo, que triste Fado o meu ...
Estarás tu Eternamente morto em Vida,
numa eterna Vida morta?!
Sinto-te sepulto num espaço que parece curto,
espaço esse, entre teus olhos e os da morte.
Espaço tão imenso, afinal,
onde cabe a eternidade ...
Espaço que já outrora me possuio!
Lugar onde me espelho ainda
em reflexo d'águas fundas quando te vejo.
Meu eterno espelho ...
Quando entro e te vejo ao fundo,
sinto penetrar um imenso corredor,
espaço entre Vidas, e tu,
a morte p'ra quem caminho!
Mas quando avanço, te fito e por ti passo,
esvai-se o medo, sinto que a morte nada é,
porque o espaço depois de ti, ó morte,
é aberto e luminoso, onde sempre brilha o Sol ...
Levanta-te e vê! Vê o que há atrás de ti!
Vira o rosto por instantes...
Vê que depois da morte, sempre vem a Vida,
porque na Vida do Universo,
não há Vida sem morte, nem morte sem nova Vida!
Pois nada do que morre, morre sem renascer,
e nada renasce, sem tornar a morrer - tens medo?!
Que pena! Perdeste a Vida a pensar na morte
pela eternidade fora e tens medo agora
de encarar a Eternidade da Vida!
A morte é a outra Face da Vida!
Acorda! Há tempo ainda!
Larga a "esfera" que te consome!
Porque depois desta Eternidade,
outra Eternidade te espera ...
Ricardo Louro
na Faculdade de Belas-Artes,
no Chiado, em Lisboa.
Ricardo Maria Louro