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Poemas aos homens de nosso tempo - I (Hilda Hilst)

 
Tags:  AjAraujo    poeta humanista  
 
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I
homenagem a Alexander Solzhenitsyn

Senhoras e senhores, olhai-nos.
Repensemos a tarefa de pensar o mundo.
E quando a noite vem
Vem a contrafacção dos nossos rostos
Rosto perigoso, rosto-pensamento
Sobre os vossos atos.

A muitos os poetas lembrariam
Que o homem não é para ser engulido
Por vossas gargantas mentirosas.
E sempre um ou dois dos vossos engulidos
Deixarão suas heranças, suas memórias

A IDÉIA, meus senhores

E essa é mais brilhosa
Do que o brilho fugaz de vossas botas.

Cantando amor, os poetas na noite
Repensam a tarefa de pensar o mundo.
E podeis crer que há muito mais vigor
No lirismo aparente
No amante Fazedor da palavra

Do que na mão que esmaga.

A IDÉIA é ambiciosa e santa.
E o amor dos poetas pelos homens
é mais vasto
Do que a voracidade que nos move.
E mais forte há de ser
Quanto mais parco

Aos vossos olhos possa parecer.

Hilda Hilst (1930-2004), poetisa paulistana. Poema dedicado a Alexander Solzhenitsyn, autor de Arquipelago Gulag. Imagem: Vista panorâmica do campo de trabalhos forçados da antiga União Soviética, Gulag, na Sibéria.
 
Autor
AjAraujo
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