Eu queria ficar com você. Queria você junto a mim. Eu também quero outras coisas. Tenho essa fome de querer incessante. Quero muito. Ainda que não possa ter. A vida me pregou uma peça, e não temo compartilhá-la contigo.
Eu não consigo amar. Não consigo viver o amor. Eu nunca experimentei o desespero doloroso de se perder no íntimo daquele que tem posse de meus mais segregados sentimentos. E isso nunca contei a ninguém. Sim, deveria ser um segredo.
Uma cicatriz do lado esquerdo. Eu tenho uma pedra no peito. Tenho a vergonha de ser inigualável. Ninguém sofre o mesmo mal que eu. Ninguém compartilha a meu lado, no escuro ínfimo da noite, as perguntas que sussurro àquele, que nunca me respondeu.
Creia em mim. Forcei-me. Obriguei meu corpo a comportar outro corpo, e nada me veio. Nada se criou. Apenas a dor nos olhos deles, que me olham como se dependessem. Esperam de mim um milagre. Acreditam mais em mim, do que eu mesmo.
É uma jornada solitária essa. Um moeda ao mercante. E lembre-se que um dia lhe contei, sobre um casal de amantes. Que sofriam sem saber o porque. Ele sofrerá o mesmo tanto que eu. Ela vagará sozinha. Guiada pela saudade do que não tem nome, mas que sente.
Um dia se encontram. Um dia. E talvez vivam o tanto de tempo restante que lhe foi dado. E se amem, e se percam, e que parem no meio da praça do mundo, embebidos de amor cor de céu e pomar. E nos olhos, nos lábios e espaços entendam. Que aquilo é amor. A batalha. O aprender a viver sozinho. O medo do nunca ter. A incerteza da amargura. O soluço na solidão. O tempo que voa e não espera você nem ninguém.
Aquilo sempre foi amor.
E agora, o que irão viver é mais.
É amor a mais.