As cores em um só pó,
ou o pó de uma só cor:
sentidos que já não são!
De onde vem tanta cinza...
Nos lábios, nos olhos, nas mãos,
em tudo, tudo... e tudo
vai se resolvendo em cinza!
Até aqueles seios lascivos, macios,
quando os toco, quando os beijo,
transtornam-se em cinza...
Parece que eu perdi
a visão em "tecnicolor":
de tanto viver incertezas,
de tanta pegajosidade
em meus passos errosos,
o meu mundo agora,
indefine-se em cinza.
Nada posso fazer —
tenho cinzas no olhar:
eu caminho em cinzas,
eu dirijo em cinzas,
eu nado em cinzas,
até os urubus voam
contra um céu cinza!
É o mal de tanto viver,
ou, dá quase na mesma,
é o mal de nem morrer!
Eu deveria já ter aceitado:
toda nitidez é cinza!
______________________
[Desterro, 11 de outubro de 2013]