Esfuziantes, em trapos rotos de sedas antigas,
bailavam céleres ao sabor da brisa noturna,
sobre vetustas lousas, cruzes e lápides amigas,
ao som de sinos azinavrados, melodia soturna.
Como um casal qualquer, ali rodopiando o par,
a quebrar o silêncio, sons de ossos a intrusar.
Deslizam os dois compartilhando segredos,
conjurando um amor que resistiu à morte;
ossadas alvacentas levantadas dos lajedos
como se ignorassem o que lhes deu a sorte.
Trocando palavras sobre os tempos de outrora,
havia encantos, mas não dançavam como agora
A bailar, tão branca dupla solitária deslizava;
à dama seu cavalheiro cortês, mesuras cometia;
os crânios descarnados amiúde o par colava,
cúmplice olhar emanava chão da orbita vazia.
Executavam a antiga valsa com muito regalo,
embevecidos ambos, até que cantasse o galo
Se noctívago passante mirou por indiscrição,
pelo portal da necrópole através da fresta,
vendo ossos silenciosamente mal tocando o chão,
fixos os olhos arregalados, ante visão funesta.
Arrepio teve, terror mirando tão dançante o casal,
ossos insepultos a bailarem alegres, a valsa sepulcral