ESTRELA
Que nome te puseram, ao nascer!
Quem tal ideia teve, não errou;
Vê-se de caras, sem hesitação!
Percebe logo, quem te conhecer,
Que a vida, ou algo ignoto caprichou
Pedir-te tudo, sim; mas, dar-te… não!
Como outra qualquer, foste pequenina,
E, desde sempre, viste haver abrolhos,
Que nos ferem, sem dó nem complacência!
Hesitas; e o pavor que te domina,
Sobressai, na tristeza desses olhos,
Que buscam, indecisos, paz, clemência!
Herdaste aquele espírito abnegado,
Capaz de dizer “sim” a toda a gente;
Foi dádiva dos teus progenitores.
Quantas vezes eu tenho constatado
Que, com o coração triste e doente,
Nos procuras sorrir, por entre dores!
Oh, Estrela; és cintilante, e dás calor:
Procuras ajudar os que carecem
Duma palavra amiga, dum sorriso!
Ainda crês mum mundo, em que haja amor?!
Bem hajas! Porém outros desfalecem,
Ao verem, tão distante… o paraíso!
Estarei eu nesse número? Talvez!
Por isso mais admiro tal conduta,
Que exemplifica a solidariedade!
Fracassar uma, duas, tanta vez,
É natural, por ser penosa a luta:
Faz parte desta pobre humanidade!
Mas se uma Estrela é gente, também quer,
Dos outros, a partilha de carinho: naquele peito, bate um coração!
Ornada de virtudes, é mulher;
Como tal sonha, surja em seu caminho quem, para ela, seja mais que irmão!...
Quem vem ao mundo, nele vive e anseia
Por dar-te, e mutuamente receber
Prazeres e tristezas, à mistura!
Cada um tenha a sua lua cheia;
E, se forçosamente há-de morrer,
Feliz, regresse ao pó, na sepultura…
Se o fazer bem já dá felicidade,
Não duvido que a tenhas, nesta vida;
Algo, porém, te falta, certamente!
Oh, Estrela humana: a tua claridade
Ilumina, e é tão mal compreendida!
Dói tal verdade, a qual ninguém desmente!
Tens por destino a todos encantar,
Não sendo, todavia, de ninguém;
Na prática, isso pode ser frustrante!
Quem não desejará ser o seu lar!?
É sonho salutar, que até faz bem,
Tornando a vida activa, palpitante…
Passar os dias no recolhimento,
Apenas atrofia qualquer ser;
Não vivamos, se há luz, sempre às escuras!
Sendo Deus bum, não quer o sofrimento,
E certamente gostará de ver
Satisfeitas as suas criaturas…
No fundo, o que precisas, minha linda,
São bons amigos, e a retribuição
Da solidariedade que lhes dás!
Oxalá pudesse eu fazê-lo, ainda!
Vou conservando, intacta, esta ilusão;
Até hoje, quiçá… não fui capaz!
Estendendo ao mundo, Estrela, o teu fulgor,
Lanças nas trevas luzes de esperança,
Aos que, como eu, naufragam, num abismo!
Não te arrependas de espalhar o amor:
Só este irá gerar perseverança,
Para vencermos, juntos, tanto egoísmo!...
25-5-1990