Quem os visse com seus corpos agitados
De olheiras escuras por entre tanta cor
Julgaria que os sonos de acordados
Se juntavam tanto à vida como à dor
Entre esses olhos de vendeiros eu bem sei
Que há uns que se requebram a abrir
Dá-se a venda por um só conto de rei
E sem troco vejo a minha alma cair
Mercadorias emancipadas permanecem
A deslizar por entre mãos esfomeadas
Dá para lembrar as aranhas que tecem
As armadilhas das casas abandonadas
Nem sempre se compra o que se toca
Nem o insecto morre sempre na teia
Cabe à coragem ou habilidade da foca
Um malabarismo que liberta a ideia
Comprou ou julgou comprar barato
Achou já em casa o arrependimento
É bem chato ver no próprio retrato
Um propósito feito pó de um momento
Tanto sentimento dá a feira num dia
Que será por isso que de semana se repete
Desejo, arrependimento, orgulho ou folia
Que um só dia enche a boca de sete.