O nascimento de um Homem é quase perfeito, seria perfeito se fosse inevitável, mas não é, pelo facto de ser dependente do próprio Homem. A vivência após a nascença é indubitavelmente imperfeita, uma luta constante entre as balas sentimentais que mostra a imensa vulnerabilidade que damos à nossa alma. A única fase do ciclo da vida que o Homem comporta de forma perfeita é a sua fase final, a morte. Nisto o Homem não falha, não falhou nem nunca falhará… a morte é perfeita, por isso que digo que uma vida sem erros é uma morte, porque a morte não falha. Dizer que a morte é perfeita, alguém há-de achar que é uma coisa dita de forma profunda… e não deixa de o ser. Um pensamento sobre algo tão profundo que arranca até a alma pela raiz tem que ser profundo. Podem achar que pensar na morte é algo assustador e deprimente… e pode ser, como também pode não ser. O Homem quer ser perfeito sem saber separar a perfeição da imperfeição, sem saber que a perfeição é assustador, fria, calculista e previsível e que a imperfeição é atraente, calorosa, viva e imprevisível por isso que a vida é imperfeita e a morte é perfeita. E desta forma é, sim, assustador e deprimente pensar na morte. E, sendo assim, pode se pensar que perfeito seria se a morte não existisse. Mas pensar assim é um acto de egoísmo imensurável, de uma fatalidade psíquica gigantesca e de uma futilidade impar. E é exactamente neste ponto que a morte torna ainda mais perfeita: ela existe para que outros possam existir. E desta forma, diga-se, não é assustador e nem deprimente pensar que um dia morreremos.
Bretiney Rodrigues