O fumo que formou corpo fingido
que por mais denso, mais repousa em nada;
o vento que passou com força alada
sem poder pela rede ser colhido;
o pó nas regiões desvanecido
de uma primeira nuvem dilatada;
a sombra, a forma ao corpo apartada;
que abdicou de ser tendo partido,
são palavras de mulher. Sobrevinda
novidade qualquer, o assombro é tanto
que lealdade, amor ou fé se findam.
É só mudança, o nome, desencanto,
pois quanto mais segura, quem aprende
tem sombra, fumo, nada, pó e vento.
Lope de Vega (1562-1635), poeta e novelista espanhol. Traduzido por Leonor Scliar-Cabral.