Era uma vez um rato chamado Zé que vivia no campo, sozinho, num dos buracos de um velho casarão desabitado e com mais de 400 anos. Zé era o rei daquele território, mas vivia muito triste porque não tinha amigos.
Um dia tinha ele acabado de acordar quando ouviu um barulho estranho vindo do casarão. Esfregou os olhitos, apurou os ouvidos e sorrateiramente saiu do seu buraco. Cautelosamente entrou na casa e viu por ali um grande reboliço.
Uma grande família tinha invadido o seu espaço, pais, filhos e netos, entravam e saiam trazendo para dentro de casa cestos e malas. Olhando ao seu redor, chamou-lhe a atenção uma bola de pêlo vermelho alaranjado sentada perto da lareira. De repente, viu uns olhos brilhantes e uns grandes bigodes e escondeu-se, reconhecendo o seu inimigo. Atento ao seu redor, viu um dos homens fazer um carinho ao gato: “Meu velho Bill doentinho” disse ele “fica aqui sossegado” e o gato ronronou, sinal que estava feliz.
Bill tinha sido um belo felino, sempre bem-humorado mas implacável com o inimigo. “Estranho” pensou o rato “a bola de pêlo não dá pela minha presença” e pé ante pé foi-se aproximando-se mais do gato, fazendo piruetas à sua frente. Este abriu os olhos, fez um pequeno som de miau e continuou a dormitar.
A mesa da sala de estar estava coberta com figos, frutas, bolos, queijo e mel. Maravilhado, o rato do campo bendizia a vinda daqueles estranhos. Saltou e dançou de contentamento.
O seu estômago estava cansado de comer trigo e ervas. Confortável no seu lugar, o gato Bill observava discretamente o rato Zé a deliciar-se com aquelas boas iguarias, mas não se incomodou e voltou a fechar os olhos.
Ria, uma das meninas, vê o rato a pular para a cadeira e grita: “Bill, apanha o rato!” mas o gato nem abriu os olhos. Assustado ao ouvir a pequena Ria, o rato Zé desapareceu velozmente. Isto não fosse a bola de pêlo obedecer e começar uma corrida desenfreada entre eles... o que não aconteceu. Os dias passavam alegres para o ratinho. Tinha boa comida e mudou-se para um buraco da cozinha, sítio mais quentinho. Zé ainda não estava convencido de que o pobre Bill estava velho e doente e pensava que podia ser uma ratoeira, de modo que com esperteza, aproximou-se do gato e deixou no prato um pedaço de queijo. O gato um pouco molengão, bufou, saltou ligeiramente e levou o queijo à boca.
Assim, dia após dia, nasceu entre eles uma amizade. Todos os dias o rato do campo visitava a bola de pêlo vermelho alaranjado, e radiante deixava sempre um presente no prato do seu novo amigo. Bill levantava a patinha a muito custo, como dissesse obrigado. Ria, sentada no velho cadeirão, observava os dois animais; o rato chiava, o gato miava, como que a cumprimentarem-se. “Avô”, perguntou ela, “então o gato e o rato não são inimigos?” “Na amizade não há raças nem cores, simplesmente acontece.” Respondeu o avô com um sorriso rasgado, acariciando o cabelo louro da neta. E para sempre, naquele velho casarão perdido no meio do campo, reinou a paz e a felicidade entre humanos e animais.
Partilhar... um entrelaçar de almas.