"PODEM PASSAR MIL ANOS"
Sais do baú depois de todos este anos
Como se a vida não tivesse continuado,
Como se os dias não tivessem passado
À sombra da tua ausência
Como se o vento não tivesse corrido
Para levar o que ainda restava de ti
Escolheste subir á consciência dos fracos
Escolheste derrubar muros e muralhas que forçaste criar
Repisas solo inimigo, com coragem e sem piedade
A palavra que só em Português se escreve, saudade
Mapas sem direção indicam-me o norte a sul
Sonhos que ligam por telepatia o rio a um mar
São traços que a memória não ousa apagar
Escreveste com tinta permanente
E já de nada me serve olhar em frente
Podem passar mil anos depois de ti
Podes correr mil mundos inteiros
Como os que eu corri sem ti
Podem cair mil trovões em mil céus
Que nada me arreda daqui
São pedras que caiem no meu peito
Atiradas por ti ao que sei
Roubaste a única coisa que tinha para dar
A única coisa que algum dia te dei
Irónico, ficar sem pedras para atirar
Invoco um cliché, comigo só á chapada
Cumpri tua sentença em jaula bem fechada
Mil desculpas e perdões numa terra que é minada
Segue esta loucura do impasse que é viver
Entre letras e cancões bem mais perto para te ter
Chagas que revelam nossos vícios
O conceito de viver e morrer
Com a transparência de um suspiro
De entre palavras que atiro
È sem ti que vou viver
BD