Duas irmãs gémeas viajavam com os pais pelas simpáticas terras do Alentejo. O pai conduzia o carro devagar e os olhares, deslumbrados, deleitavam-se com a bela paisagem, um sol mais dourado a cair sobre os campos de trigo amarelo, salpicados pelo encarnado garrido e exuberante das papoilas. Uma das gémeas estava muito irrequieta. Ao fim de algum tempo, não resistiu e pediu ao pai para parar um bocadinho. Queria surpreender a mãe com um ramo de flores, pequeninas, roxas e azuis, que enfeitavam a beira da estrada. Rendido à beleza e à tranquilidade, o pai fez-lhe a vontade e parou o carro. -Vamos sair um pouco! O pai aproveitou a paragem. Tinha uma grande paixão pela fotografia e pelas viagens. Tirou do porta-bagagem a mochila com os apetrechos fotográficos. Enquanto montava e colocava tudo em ordem para fazer umas boas fotografias, as gémeas, de cabelos ao vento e com vestidinhos coloridos, pularam de dentro do veículo, correram em direcção às borboletas que esvoaçavam em redor das flores, a beber o pó da vida. Com o tripé às costas, o pai das pequenitas disse à família até já e perdeu-se pelos campos dourados. As papoilas vermelhas, de olhos negros, baloiçavam ao ritmo do vento. Borboletas, mariposas pousavam aqui e ali e as pequenitas, radiantes, corriam atrás delas. Os grilos e as cigarras cantavam alegremente numa desgarrada, naquele inesquecível entardecer. -Venham cá, meninas! -Gritou a mãe. Não podem perseguir as borboletas. Sentem-se aqui, por favor. Fisicamente as gémeas eram muito aparecidas, mas tinham um temperamento muito diferente uma da outra. Contrariadas, obedeceram à mãe. De cores vivas, as borboletas dançavam um bailado sem compasso, enquanto as meninas comiam, com apetite, deliciosas bolachas de limão, receita típica do alto Alentejo. Malfada, assim se chamava uma das gémeas, reparou que, um pouco mais afastada, estava uma borboleta a esvoaçar, multicolorida, a mais bela borboleta que algum dia tinha visto. Pairava com elegância sobre uma flor a beber o seu néctar. -Vem dançar connosco, não fiques aí sozinha Disse uma mariposa gentilmente à bela borboleta. -Não te aproximes de mim, eu não falo com borboletas nem mariposas insignificantes. – Disse a borboleta vaidosa com desdém. Aquela borboleta era muito vaidosa e egoísta, nem com a própria família falava. De uma beleza rara, achava-se muito importante e o seu sonho era ser famosa. Sempre sozinha, a esvoaçar constantemente, mostrando a todos como era a mais bela borboleta e a mais poderosa. O pai das gémeas regressou muito satisfeito com o seu trabalho. Levava na máquina belíssimos registos, para colocar na sua página na internet para dar a conhecer aos amantes da natureza a região do Alentejo. A mãe, com um sorriso nos lábios, chamou pelas filhotas. -Meninas, venham! Vamos embora. Tomaram rumo ao sítio onde estavam hospedados. Era um recanto maravilhoso, como tantos outros que existem espalhados por todo Alentejo. Depois de entrarem no carro e da mãe ter apertado os cintos de segurança, a pequena Mafalda disse muito baixinho para a irmã. -Tenho aqui uma borboleta muito bonita. Dá-me a caixa de madeira que tem os lápis de cor. -Mostra lá a borboleta! Ela vai morrer. - Disse Carolina, curiosa. Com muita perícia e jeitinho, colocaram a borboleta na caixa dos lápis de cor. A borboleta pediu socorro às outras borboletas e mariposas, mas ninguém a ouviu. Quando se apanharam finalmente a sós no quarto, tiraram a borboleta da caixa e colocaram-na num frasco de vidro. Trocaram ideias e opiniões sobre a nova vida da borboleta. Acerca do nome da borboleta, concordaram que se chamaria ”arco-íris” pelas suas lindas cores e a nova casinha ser a caixa dos lápis de cor. Iria viver com elas para Lisboa. - Oh mana! As borboletas não podem estar fechadas. - Disse a Carolina, muito triste, ao ver a borboleta a esvoaçar contra o vido do frasco. No dia seguinte, a borboleta tinha perdido as cores, as asas estavam esbranquiçadas, mal podia levantar-se. A borboleta lutava, desesperada, para não morrer. Chorava e prometia ser humilde para todos os que a amavam. -Olha bem para a borboleta, está a ficar doente. Põe a borboleta a voar. Disse a Carolina com muita pena da bela borboleta. - Anda, anda, vamos nadar. Disse a Mafalda. A mãe foi arrumar o quarto das gémeas, enquanto elas estavam na piscina. Encontrou a borboleta no frasco de vidro, desmaiada. O pai, sentado à sombra dum chaparro, saboreava um copo de vinho, dos bons vinhos da região, alheio ao que se passava. Desfrutava plenamente da beleza arrebatadora daquele maravilhoso sítio, que tinha escolhido para passar umas mini férias com a família. Repimpadas à beira da piscina, as gémeas ouviram a mãe a chamar, forte e a bom som, e correram ao seu encontro. Quando viram o frasco, perceberam que tinham sido descobertas. - Quem fez isto? Perguntou a mãe zangada. As duas irmãs olharam uma para a outra e responderam: encontramos esta bonita borboleta e, como não podemos ter animais em casa, pensamos ter uma borboleta. - Venham cá, sentem-se aqui e olhem bem para o frasco que está na minha mão. Isto que vocês fizeram, é uma grande maldade. As borboletas não podem estar fechadas, elas têm que voar. É uma beleza para ser vista no ar. Entendem, crianças? No nosso apartamento não podemos ter animais, não temos condições. Os pais trabalham e as meninas andam na escola. Regressamos a casa, todos os dias, muito tarde. Os animais, sejam quais forem, têm que se sentir acompanhados e felizes. Não foi difícil convencer a Malfada. Ela abriu o frasco, deixou a borboleta sair. Vai, vai, borboleta, ao encontro da tua família e dos teus amigos, não te esqueças de ir dançar com os teus amigos. Abraçou a mãe, pediu desculpa e prometeu que não voltaria a fazer o mesmo. Mas, quando fosse grande, teria uma quinta com muitos animais. Mãe e filhas abraçadas juntaram-se ao pai que não se cansava de gabar aquele sítio paradisíaco. A borboleta esvoaçava satisfeita e divertida, em direção aos campos dourados de trigo. Com humildade, pediu às irmãs e primas” borboletas” e “mariposas” se podia brincar com elas. Sim, vem fazer parte do nosso bailado. A borboleta não contou o que lhe tinha acontecido, mas pediu desculpa, em frente de todos, pelo seu comportamento e prometeu a partir daquele dia ser amiga e generosa. De regresso a casa, as gémeas pensaram na aventura que tiveram com a borboleta, ela iria ser muito infeliz fechada e acabaria por morrer. E a vida não estás nas mãos de ninguém. - Espero que a borboleta tenha aprendido com o susto que teve. Devemos cativar os amigos, a vida sem amigos é muito triste. - Disse Malfada, abraçando a irmã. Correram uma atrás da outra, radiantes, e juntaram-se aos pais na sala. Viam na televisão uma reportagem sobre a região alentejana, um manto de flores era o palco de um bailado de borboletas, entre elas estará a “arco-íris” arrependida, linda e singela.
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