Fotografias que fazem você viajar sem medo num ângulo perfeito,
Como comprasse passagem sem volta, para lugares antes conhecidos.
Nesta viagem o tempo marcou o tempo que durou o tempo,
Quanto mais amareladas mais saudade, mais tempo que não se vê.
Às vezes rasgam, como rasgam as amizades, como rasgam as vidas.
Não tem jeito. Não tem como remendar fotos, como as colchas de retalhos,
Bastam os retalhos que sãos nossas vidas, a vida de cada um: quantos retalhos
Fotografias que as mãos dos nossos olhos pegam, como abraçando a vida, os amigos.
Como dá vontade de dizer aos amigos, porque crescer, porque ficar amarelado na foto,
Como o tempo não sabe nos conservar, como não sabe nos proteger e a que protegemos?
Que vício é a vida, que ciclo, que roda sem fim, que imaginação sem graça, sem ação. E a vida?
Está na foto, na parede, no seu bolso, numa moldura de madeira envernizada de saudade.
Fotografias, como nos marcam, têm a força do tempo, do vento, do sol, da imaginação.
Fotografias são como caixas de poemas que as lentes escrevem e na memória revelam-se,
Destilando o mais puro sabor do segredo guardado num retrato três por quatro descolorido,
Na simetria da poesia livre dos poetas e profetas abraçados numa fotografia num canto sala.
Jomave
12091972, Raul Soares, MG
José Veríssimo