.
Assenta a sombra sonora do pôr do sol.
Acima do monte,
a paisagem urbana reduzida
em escalas de prismas da minha retina.
Se fecho um dos olhos,
com o dedo em riste
contorno a linha do horizonte
como se a desenhasse.
Daqui, meu mundo cabe
na palma da minha mão.
Bato palmas ao sol que vai.
A nuvem, densa, acima do horizonte,
contrai a forma oval do astro-rei
e deixa-o polígono
retangular e flamejante.
O pôr-do-sol-barra-forte.
O tempo passando e a barra afinando.
O polígono laranja sinalizando que lá vem
lua
lá vem rua escura
e as filhas de Thomas Edison.
Lâmpadas da minha insignificância!
Apaguem minha ignorância
para que eu possa ver além dos olhos crús.
Para que eu compreenda o sol,
além da barra,
além da forma oval...
Minha descrição do mundo objetivo,
jaz na minha subjetividade
enclausurada nessa pele humana,
na minha condição orgânica,
na visão limítrofe
dos cones e bastonetes.
Ó sol, menina dos meus olhos,
ó cidade acendendo luzes
para as noites que inventamos
porque não podemos ver tudo.
Não podemos ver o eterno dia
e a noite sem fim que é tudo,
sempre.
O sol não nasce,
nem morre.
O sol permanece.
Inerte às convenções
de minúsculos seres girando,
com força da gravidade
no espaço sideral.
Antes de ir,
queime minha pele sol.
Chamarei-te quente,
e lembrarei de ter estado em tudo,
mesmo sem ver o todo,
por intermédio da sua luz.
.