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por estas metamorfoses carregadas de mansidões,
revejo mudanças pelas marés de sizígias que me sossegam,
hábitos que se disfarçam, alguns rastejantes,
vê o adejar da andorinha em fuga, migrando,
pudesse eu ser-me persistente de outros horizontes perdidos, esquecidos um dia,
sem os tempos que me cansam.
Abundam as palavras disfarçadas,
os véus que envolvem os disfarces pela noite, sem lua,
sem luminosidades de alguns vaga-lumes dispersos,
os sonhos partilhados, até mesmo as fugas olhando vénus pela alvorada,
e se me repetes que a morte se aproxima fulgurante,
digo-te que as alfazemas renascem pelas margens destapadas,
todas as primaveras.
Mesmo que me queira esquecer, de me esquecer,
sempre saberei que é pela noite que as orquídeas voam.
Ainda há tempo.
(Ricardo Pocinho)
"Tu só, tu, puro amor, com força crua
Que os corações humanos tanto obriga,
Deste causa à molesta morte sua,
Como se fora pérfida inimiga.
Se dizem, fero Amor, que a sede tua
Nem com lágrimas tristes se mitiga,
É porque queres, áspero e tirano,
Tuas aras banhar em sangue humano.
Estavas, linda Inês, posta em sossego
De teus anos colhendo doce fruito,
Naquele engano da alma ledo e cego,
Que a fortuna não deixa durar muito,
Nos saudosos campos do Mondego,
De teus fermosos olhos nunca enxuito,
Aos montes ensinando e às ervinhas,
O nome que no peito escrito tinhas."
"Os Lusíadas"- Inês de Castro, de Luís Vaz de Camões)