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Gê Muniz
INCONSCIÊNCIA PUNITIVA
não me rebelo
contra qualquer perda
mas por esta assumir
tua espevitada pretensão
não me detenho a contemplar
qualquer miragem,
tão-só certas miragens
em que és o tom da ilusão
não me aferro a qualquer fato
apenas uns raros fatos
que trazem o desatino
sensual da tua inação
nada é referência concreta
: nem o fato, nem a perda,
nem a miragem
em si, nada me provoca
uma qualquer reação
a não ser algum atributo
do fato, da perda, da miragem
que leve em alegação
teu ser tão inumano,
tão deterior, tão estranho
tão distante de meu próprio plano
aspecto transitivo das minhas lembranças
que se ilumina numa provocação
sem sentido, insensível,
inconsciência punitiva d'uma íntima,
invisível desilusão
(Gê Muniz)