Olá Claire,
Faz um tempo que não te escrevo, faz um tempo que não te vejo.
Hoje lembrei-me de ti de uma maneira diferente. Lembrei-me do que me dizias quando eu lutava pela perfeição que tanto busco. Sempre foste a minha eterna confidente e sabes, melhor do que ningúem, como eu gosto de ter tudo perfeito (ou perto disso).
Sabes, sinto-me bastante longe da perfeição que almejo. Tudo parece incompleto e eu não sei como as melhorar. A cada imperfeição, um pedaço de mim desaparece. A cada imperfeição, prego mais um prego no meu caixão. A cada imperfeição, questiono o sentido daquilo que busco e até que ponto estou no caminho certo.
Estarei eu destinado a encontrar esta perfeição? Será que o meu mundo continuará a perfeita imperfeição?
Sempre disseste que a minha vida seria feita de quedas e que eu teria de ter força para erguer a cabeça e continuar. Nunca me disseste que seria tão pouco recompensador.
Sei que também achas que sonho demasiado. Não é mentira. Todos os dias, antes de adormecer, imagino como gostaria que fosse o futuro. Imagino a casa, os vizinhos, a esposa, os carros e até o cão! Não lhes dou um rosto concreto mas, de facto, até aqui tudo tem de ser perfeito. Mais uma vez, sempre me disseste que isto seria possível e que teria, apenas, que não desistir. O que não me disseste é que não veria resultados imediatos.
Até que ponto esta eterna busca será apenas uma estrada sem fim? Até que ponto vale a pena lutar por algo impossível?
Claire, preciso da tua força, da tua garra, do teu optimismo. Preciso de chorar no teu colo e das tuas festas de reconforto.
Espero ver-te em breve.
Deste que nunca te esquecerá,
António
«O amor é forte como a morte e duro como o Inferno.»