Olho-me, entre mim e o mundo existe um espaço vazio, às vezes perco-me nas entrelinhas do que não disse e depois deixo-me permanecer no desamor desencatador de me saber distante de tudo, distante do mundo, perdida de mim.
Já muitos silêncios me fizeram sofrer como este de hoje, muitos silêncios me tornaram o eco vazio do que não foi dito, a complicação é o pecado original de quem é inteligente, depois dá-se a volta ao cérebro e perdemo-nos no nó que a vida nos parece ser.
Vejo-me e não gosto de mim assim, tão magra, tão oca, tão nada e tão cheia de tudo que incomoda tudo e todos com os enigmas que crescem como ervas daninhas nas bermas da estrada.
Espero alguém, talvez nunca encontre, talvez seja um mero gesto, um olhar chamativo, a palavra já gasta mas a certeza de que espero algo é tão absoluta como sentir-me viva mesmo sem me tocar. Queria seguir um ou dois passos de alguém que sem embaraço me mostrasse a vida, ou a sua beleza, já que na minha frente só encontro a negrura que me enclausura nesta espécie de céu, pedaço de céu que não vale nem a ponta de um horizonte.
Apetece-me chorar, balançar um pouco e sentir-me cair para depois recuar e olhar o sal das lágrimas e ver-me afogar pela verdade solta que não quero que seja a minha, esta não... mas nunca duvidei ser eu própria a verdade nua e crua que se revela no reflexo do meu espelho.
Silêncio! Deixem calar-se-me a boca como se me cala o coração e a alma, amordaçados pelas mãos das palavras interdictas, se eu soubesse como doía nem por aqui tinha vindo.
. façam de conta que eu não estive cá .