A rua estreita serpenteia entre as casas antigas
O transito resume-se a um transeunte
Que andando observa detalhes de uma cidade estranha.
O seu medo é seu receio de está só.
Caminhando solidário no seu caminhar
Vai a monologar sobre detalhes
De uma arquitetura histórica:
Onde o belo é consumido por seus olhos.
Muito tinha de reclamar,
Mais a quem?
Quem iria escutá-lo?
Na trágica conclusão
Está seu modo de guerrear,
Nada o impede de se exaltar:
No calar da sua voz
Resta-lhe o consolo de pensar.
As casas, internamente iluminadas,
Deixam escapar pelas janelas
Pequenos fachos de luzes,
Que se misturam com iluminação da rua.
O transeunte transpõe cada facho
Como se cada um fosse um recado
Avisando-lhe que não era o único
A respirar neste logradouro.
Lá e cá encontra um carro estacionado,
O transeunte indaga intimamente,
Se caso aquele carro parado fosse seu:
Já estaria em casa sem grandes preocupações,
Ou estaria visitando um amigo,
Ou passeando pela cidade.
Um pouco lá adiante
Encontra mais carros:
Agora juntos
A curiosidade faz o transeunte
Mudar de calçada para descobrir
A razão de tal fenômeno:
Será uma festa, um enterro
Ou quem sabe uma reza
Ou coisa parecida a uma missa?
Sempre alerta ele vai desvendando
Tal mistério
E por fim chega a resposta do mistério.
Era um restaurante.
E a imagem do restaurante
Lhe aumenta a fome
E a certeza que é ruim não possuir carro,
Mas o seu salário não é suficiente
Para adquirir um.
De repente do nada
Se materializam vários carros:
Um atrás do outro
Aumentando a inveja do transeunte.
Que olha para o céu
E vê que está todo estrelado.
A lua cheia lhe enche de esperança
Que o faz pensar no futuro.
Hoje o homem já pousou na Lua.
No futuro vai ser a vez de
Marte, Saturno, Urano
E assim por diante:
Até o infinito.
Porém, o homem
Precisou de um veículo
Para alcançar a lua
E ele, coitado, não tem nenhum
Para completar
O Trajeto do seu trabalho
Para sua casa.
O que posso fazer
Se não andar:
Pensa o transeunte.
Onde estou
Ainda falta muitos
Passos para o sucesso,
É preciso pensar numa solução.
E assim nem nota que saiu
Daquela rua e entrou em outra rua,
Mais arborizada, porém, menos iluminada:
A luz do poste mal ilumina a calçada
E as casas estão à escura.
O transeunte percebe que se enganou
E volta apressado para o caminho certo,
Que lhe leva para casa.
Tropeça, quase que cai,
Numa boca de lobo,
Sem tampa.
Estupidamente solta três palavrões
E chama o prefeito da cidade
com outro palavrão.
Será que ele pisou em rastro de ....
Agora falando serio
O transeunte pensa
Estamos mal servidos
Onde já se viu rua tão mal iluminada.
Mais adiante ele avista
Uma casa de janelas abertas.
Cai nele uma vontade
de olhar pra dentro da casa
e ao olhar vê um casal
a namorar a todo vapor,
sem se preocupar em serem flagrados.
o transeunte envergonhado por tê-los visto,
acelera os passos negando-se
a testemunhar aquele momento de amor desvairado.
Mesmo andando apressado
Vai pensando cada vez mais na sua solidão:
Feliz é aquele que está amando
Feliz é aquele que está sendo amado
Ele coitado está sofrendo o isolamento
Só lhe resta o sonho e nada mais.
O dia foi estafante
O coitado trabalhou na rua
O sol escaldante o feriu no corpo inteiro
A roupa incomoda e exala
Um cheiro de suor azedado
Que ficou retido entre a sua roupa e sua pele.
Se pelo menos ele fosse o Carlitos:
O Herói sem causa
O anônimo mais conhecido do mundo
O senhor absoluto das grandes trapalhadas
O saltimbanco bem sucedido
O rei da malandragem.
Deixa pra lá
Vamos segui-lo a vagar pela cidade.
O coitado era o anônimo mesmo:
Não era noticia do jornal
Não tinha cartazes no cinema
Não era exaltado pela crítica
Não era convidado para festas
Porem sempre era visto como um terrível estranho
Que a qualquer momento se transformava
Num violento marginal
Que era procurado pela policia.
O transeunte chega a uma ponte
embaixo da ponte o rio produziu um mangue
e nesse mangue mora gente
em palafitas feitas de madeira e zinco
sujeita a todo tipo de doenças.
lá de cima da ponte
avistava-se um amontoado de seres:
mulheres, homens e crianças
Fazendo o transeunte pensar
que existe vidas em estado de vida
pior que a dele.
O que fazer?
Onde tudo está contra todos,
O mal é comum para todos que
Formam a maioria sem prestigio:
Do flanelinha da rua ao frentista de um posto
Do operário ao funcionário publico
do pescador ao vaqueiro
do barraqueiro ao pequeno comerciante
todos suam a camisa e se dão sempre mal.
Meu caminho só me leva para casa
O transeunte se desespera
Ao pensar em tal sina
Preciso modificá-lo
Preciso fazer algo que me livre da miséria
Hoje tenho onde morar, mas, amanhã?
Pensando e andando
Andando e pensando:
O transeunte vai refletindo sobre a vida
Tudo pesa contra ele, tudo é indiferente á ele.
A vida é cruel, muito mais de que a pior vida mostrada no cinema
Tudo aquilo que rola na telona,
É mentira, o ator vive rico
Cheio de mulheres e de amores
Por interpretar a vida miserável.
Mais o que fazer?
Naquela altura da vida
O transeunte se sentia vencido.
Com vinte anos de idade
Ele já se achava no fim da vida:
Não ia testemunhar a virada do século XX
Não ia deixar herdeiros e herdeiras
Não ia ter uma amada para odiá-lo.
O que lhe restava era andar
Naquela rua esquisita e sombria,
Que lhe causava susto e arrepios
Só em pensar que estava só
E desprotegido.
E assim caminhava
E assim ia a pensar o transeunte
Não tinha motivos para apressar os passos
Ninguém estava lhe esperando
Há não ser o dono da lanchonete
Onde ele fazia a última refeição do dia
Que era uma sopa e um pão Frances como complemento.
O que farei amanhã...
Há não ser trabalhar,
Trabalhar, trabalhar, trabalhar.
Preciso fazer outra coisa
Preciso cuidar da minha mente
Torná-la sempre ativa e criativa
Preciso fugir do tédio
Da mesmice doentia
Que me destrói aos poucos
Que me faz um solitário.
Pura abstração do transeunte
O coitado nem percebia que
Em certo momento
Ele passou a dividir a rua
Com outros transeuntes
E que não estava mais a transitar
Em uma rua deserta.
Ai a história muda um pouco,
Ao notar a presença de outros,
O coitado começa a pensar:
Como seria bom se todos
Que estão nesta rua
Tivessem algo em comum
E se conhecessem;
Se todos fossem amigos
E pessoas confiáveis;
Se todos prestassem um favor ao outro
E não deixassem ele triste e solitário
Nesta rua triste e escura.
Pura utopia
Sem muita esperança
De concretizar tal utopia
Ele apressava os passos
E assobiava uma música de Chico Buarque.
Depois a musica dos anões da Branca de Neve
Eu vou eu vou pra casa agora eu vou....
E assim esquecia de todos os seus problemas de solidão.
Chicão de Bodocongó
Campina Grande, 11 de dezembro de 2012
Às 21h24min
Chicão de Bodocongó foi a melhor maneira de homenagear o bairro que moro a trinta anos na cidade de Campina Grande ( Bodocongó ), Paraíba. O meu nome é Francisco de Assis que é acompanhado pelo sobrenome Cunha Metri e faz pouco dias que venho publican...