Só, passou os olhos pela casa como se procurasse companhia... como se procurasse algo que lhe dissesse algo.
Nas estantes, as velhas lombadas daqueles livros faziam-lhe sinal através da mudez que sempre tiveram. Deteve o olhar sobre elas. A sua mão, saída do bolso quente das calças de flanela, caíu sobre um dos livros e folheou-o... tantas palavras, tantos significados, tantas frases que naquele dia não lhe diziam nada.
As paredes pareciam-lhe mais defeituosas do que era costume, as cortinas mais descoloridas e queimadas do sol do que alguma vez tinha reparado... tudo estava mais imperfeito.
Ele continuou a olhar, a procurar. Pensou na televisão, no rádio... mas não. Tinha que ser algo mais pessoal, mais dele... algo que mais ninguém partilhasse naquele momento. Uma companhia só para ele. Naquele dia, ele precisava de ser egoísta e sentir-se dono de algo que não partilharia com ninguém em hipótese alguma.
A saudade! Memórias do que passou sem que passasse completamente.
As fotografias começaram a pulular para fora da gaveta, daquele escuro móvel de mogno, como que magnetizadas por mãos frenéticas.
Empilhou-as. Eram muitas.
A primeira namorada... o seu olhar deteve-se em cima de um sorriso terno. E ele recordou muitas coisas. Os seus olhos brilharam ao imaginar episódios reais. O seu coração batia mais depressa e a visão dela concretizava-se. Ele conseguia sentir-lhe o cheiro, o sabor de cada beijo partilhado... senti-la em si... tocar-lhe novamente.
Saudade... magia!
As fotografias corriam umas atrás das outras por entre os dedos compridos e delgados de alguém que tentava sentir cada momento passado e que agora voltava a passar.
Era tudo tão real.
Reais, as vidas que se viveram,
Reais, as coisas que se fizeram,
Reais, os amigos que se tiveram,
Reais, as saudades que se revelaram.
Real, tudo o que existe,
Tudo o que é vivido,
Tudo o que é sentido,
Tudo o que toca bem no fundo
De uma alma que vagueia
Numa busca incessante para satisfazer
A saudade, a eterna saudade.
Valdevinoxis
A boa convivência não é uma questão de tolerância.
Re: Saudade... magia!
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