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Bendito,
louvado seja,
São Ninguém.
Os ateus clamam a ti
com dentes cerrados,
quando nos becos escuros
dos limites racionais.
São Ninguém,
protetor de todo mundo.
Fazei da tua inexistência
a muleta de fé que preciso
para cruzar meu caminho inteiro.
Que no meio do caminho,
nas pedras,
ou nos abismos acidentais,
eu possa clamar a ti,
São Ninguém!
Alívio amorfo da minha crença,
aliança entre o lá,
o aqui
e os confins do além.
Egrégora invisível,
politeísta,
pairando sobre minha cabeça
e nos raios inesperados
no horizonte seco,
onde a vista alcança.
São Ninguém dança
à luz de luas que nascem de dia.
Luas afobadas,
exibidas,
orgulhosas em mostrar
que a divisão das coisas
é mera convenção arbitrária
das vaidades dos filhos de São Ninguém.
Diadorim, noite néon.
Escuro-claro,
a luz da escuridão.
São Ninguém vive ali,
no altar do paradoxo,
na curva da interrogação.
Sãos e salvos,
Salve o São!
Ninguém condenado.
Salve São Ninguém no feriado
e nos dias de trovão.
Amém todos os santos.
Paz, amor e feijão.
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