A lagartixa ao sol ardente vive
E fazendo verão o corpo espicha:
O clarão de teus olhos me dá vida
Tu és o sol e eu sou a lagartixa.
Amo-te como o vinho e como o sono,
Tu és meu copo e amoroso leito
Mas teu néctar de amor jamais se esgota,
Travesseiro não há como teu peito.
Possa agora viver: para coroas
Não preciso no prado colher flores;
Engrinaldo melhor a minha fronte
Nas rosas mais gentis de teus amores.
Vale todo um harém a minha bela,
Em fazer-me ditoso ela capricha;
Vivo ao sol de seus olhos namorados,
Como ao sol de verão a lagartixa.
(Obras, v. 1, 1853, Lira dos vinte anos – 2ª parte)
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É um poema de comparações.
São dezesseis versos divididos em quatro quadras com rimas entre o segundo e o quarto verso.
São decassílabos (dez sílabas poéticas).
Vejamos a escansão (divisão) da primeira estrofe:
“A-la-gar-ti-xaao-sol-ar-den-te-vi-/ve
E-fa-zen-do-ve-rão-o-cor-poes-pi-/-cha:
O-cla-rão-de-teus-o-lhos-me-dá-vi/-da
Tu-és-o-sol-eeu-sou-a-la-gar-ti-/xa.”
Aqui a primeira comparação: “Tu és o sol, eu, a lagartixa”, em outras palavras, tu brilhas, eu me aqueço...
Na segunda estrofe mais comparações: o vinho e o sono, o copo e o leito de amor, o travesseiro e o peito amado.
Poesia trabalhada, pensada, estudada; devemos observar a inteligência com que é construída a terceira estrofe:
“Posso agora viver: para coroas
Não preciso no prado colher flores;...”
A utilização dos dois pontos, antes da conclusão lógica, ou seja, o jovem poeta (não completou vinte e um anos de vida) já tem a sua flor...
E assim o jovem vai construindo a sua poesia e continua a declarar seu amor, diz que a sua bela vale mais do que outras belas e faz a comparação final:
“Em fazer-me feliz ela capricha;
(...)
Como ao sol de verão a lagartixa.”
Mergulhando no texto temos um jovem poeta apaixonado por uma bela, mas em algum lugar, Ele vê na parede uma despretensiosa lagartixa e faz as comparações prosaicas que embelezam a poesia.
Augusto de Sênior.
(Amauri Carius Ferreira)
(FERREIRA, A. C.)
Augusto de Sênior
(Amauri Carius Ferreira)
(FERREIRA, A. C.)