que saudades destes tempos...
Senhor,
Creio que me ouves, eu que nunca fiz mal, a ninguém, não mereço tal calunio, nem difamações. Ainda ontem rompi uma ligação com um velho, ajudei uma parva a levar no focinho, mas eu, Senhor, não levei intenções foram só mesmo impressões.
Eu abdico do jejum mas só tenho comido latas de atum, ou salsicha alemã, não é porque não goste de hortaliça mas essa ficou-me aqui engasgada na garganta, após ter engolido um rabanete que me soube a pepino de três semanas.
Eu não merecia isto Senhor, nunca falei mal de ninguém, juro-te, por estes olhos pitosgas que a terra há-de comer, nunca insultei ninguém palavra de honra, que me caia aqui um chicharro se eu estou a mentir, ainda hoje comi uns ao almoço que me souberam pela vida. Mas Senhor, eles estavam mesmo a pedir que os comesse, olhavam para mim, com ar parvalhão, não pude evitar, detesto raia miúda e chicharros mal-educados.
Acredita Senhor, na minha boa-fé que não peco por mal, só quando me obrigam, por isso castiga-os e tem piedade de mim.
- Mas vê lá a Piedade que me mandas, porque a última que me enviaste era coxa e ainda por cima cheirava mal dos sovacos.
Conceição Bernardino