Há dias resolvi tocar violão para ela, todo dia toco duas a três músicas do meu repertório.
Ela não tem saído fluidas, tem muito esbarro notas erradas, e a partir de um momento a melodia original me foge, aparecendo outra, cria um impasse e a música não sai.
A minha interpretação está perfeita, talvez fazendo como nunca o fizesse, deve ser só sentimento, e como a música é a linguagem dele, a interpretação flui tanto.
A técnica ainda deixa a desejar. Afinal fazia três anos que não punha a mão no violão! Com o tocar, passei a fumar menos, não dá para fumar com as duas mãos ocupadas segurando o instrumento.
Ontem contei a ela e pude ouvir sua voz cristalina em um doce cantar.
Hoje, longe de tudo, peguei o violão que mais me identifico e pus-me a tocar livremente. Fiquei encantado, novas melodias brotavam dele, como se tão cansado estivesse de calar, tivesse falado.
A música é a forma mais pura de extravasar sentimentos, e também a linguagem universal deles. O que me intrigava era a nova maneira de tocar, essas novas melodias, afinal o criar não é assim tão fácil, essa interpretação exacerbada, e outros.
Vim ao meu escrever, pois esta é a forma de refletir sobre o meu diário. Lembrei-me que o meu escrever também estava mudo, parece que ela criou forças para esta voz que brota dentro de mim, que parece nas letras dos meus textos ou nas notas da minha música.
Mas, o que mais me afligia, era este algo novo, que eu nunca tinha feito antes, que entrava em conflito com o velho, sedimentado, revolucionando minha música e meu escrever. Estava sentindo algo diferente, novo, e isto estava revolucionando o meu sentir, e a minha forma de pensar. Seria fácil dizer que isto se chamava: ela, mas não, isto também era eu, que tinha ela como razão!