Dor,
Não será dor o lado azedo e rançoso da vida.
Dor,
Nem ver a pessoa amada partindo num trem aflito.
Dor,
Saciar a sede amarga dos sábios infelizes.
Dor,
Plantar bálsamos em nossos quintais e vê-los crescer, amargamente.
Dor,
Desviar operários calados de seus caminhos e de seus ninhos de trigo
Dor,
Entender o silêncio dos santos sacralizados num altar frio.
Dor,
Celebrar o corpo de um dançarino grávido que celebra a vida.
Dor,
Roçar um peito e ouvir um coração louco e estar do lado de fora.
Dor,
Transcender a alma, o espírito e se calar num beijo rasgado e livre.
Dor,
Ferir com palavras no silêncio da noite e não conhecer o dia.
Dor,
Se engravidar do silêncio e do medo e fugir dos anjos, em silêncio.
Dor,
Sair da carne e voar infinitamente livre e feliz nas asas do vento
Dor,
Que será a dor
Quem sabe não ser real a dor real que prova seu corpo a todo momento
Como as bicas bebem das águas machucadas pela montanha fria.
Dor,
Assim como as águas, cada um bebe na bica do seu quintal a água mais pura dor.
José Veríssimo