Era inverno e seus olhos verdes. Era noite e sua imensidão iluminava-se com a dança das luzes do norte por sobre as montanhas. O termômetro da rua enfrente ao hotel marcava 23 graus, negativos, nas mãos, segurava a câmera fotográfica carregada de semana e com uma rápida olhada, descrevendo o ângulo entre a entrada para o banheiro e a fechadura do quarto, e desprezando o perfume forte, notei que já havia ido. Acreditei ser um bom momento para sacar o caderno de anotações, propício codinome para o diário, do fundo da mala e descrever seus detalhes. Tenho este costume, e por mais que céticos discordem, acho uma ótima forma de criar personagens para um conto ou história ou quem sabe convencer meu irmão de criar um de seus games. Comecei a traçar as linhas: o nariz comprido, sua pele morena como os raios de sol pela manhã. Desproporcionalmente alto, os braços fortes, o peito firme. No pescoço podia ver a marca da garganta como nos viris guerreiros da terra média. Cabelos pretos com leve mecha caída sobre a testa numa mistura de menino-homem. O sorriso aberto, os dentes alinhados, poderia até dizer que alguns eram maiores, mas isso não modificava a expressão de paz e carinho que transmitia em cada palavra proferida. Sim as palavras, eram como flechas lançadas ao coração. O que era? Humano esculpido a brasa? Deixei o espaço para um nome ou descrição. Se existe alguma coisa que atrapalha um autor, mesmo os amadores, está relacionado a personalidade final do personagem. Não que nas primeiras linhas já o traçaria e desenharia toda sua trajetória, mas, aquele detalhe que irá prender o leitor, ou mesmo, aquele momento que tomou como fundamento para gastar o tempo narrando. No meu caso era o nome, ou o gênero, que aquela criatura que estava nascendo tão formidavelmente.
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Escrito por Karoline Elis Lopes