Meu querido amor, que falta tenho sua. Os dias correm preguiçosos por essas bandas e chego ao atentado de procurar a presença de meu pai, apenas pela solidão, apenas por sua ausência. Queria você aqui, desculpe-me, mas a quero.
Você não responde minhas cartas. O que fiz de errado, para que possa redimir-me e ter novamente seu afeto? Um cacho de seus cabelos. Uma fita azul. Apenas um olhar em minha direção quando voltarmos a nos ver. Seu silêncio é uma arma afiada da qual não consigo me defender, pequena. Saiba disso, conheça minha fraqueza, não me torture mais.
Terei que permanecer em Toledo, antes de retornar a Belmonte. Posso alimentar uma esperança em revê-la? Essa seria minha maior alegria. Um sol nas tardes cinzas de meu ofício. Sua imagem perpetuaria minhas fantasias e seu nome invadiria minhas conversas, minhas cartas, meus devaneios. Eu levo seu lenço comigo, minha adorável moça. E antes de dormir o meu último pensamento é você. Em louvor. Um murmuroso pedido de que venhas me visitar em sonho. Venha.
Fico por aqui. Não quero perder esse fio de interesse que teve ao pegar a carta. Suas mãos são lindas, permita-me dizer. De lê essas palavras. Perigosas íris, incríveis olhos. Acompanhar a carta, escutando minha voz ecoar em seus ouvidos... Saiba que o que mais aprecio em você é sua mente, vivaz, intensa, como você, toda você.
Fico com você, porque quero e preciso. Platonicamente eu preciso entrar em você e permanecer para sempre. Sempre. É uma necessidade que me corrói e domina. Acabarei roubando-á para mim, a esconderei em meu quarto e seu alimento será de meus lábios.
Isso, sorria, sua joia mais preciosa.
Eu a amo.
Peregrino