Contida em papéis escritos e amarelados {de tanto serem manipulados} contando um tempo em que a lua já não era nova mais, mas ainda não estava cheia de tudo, havia uma estória entre um sorriso cego e uma tristeza surda-muda que não se continham em querer se achar. Tão intensa era a vontade dos dois de se encontrarem, que o sorriso virou tristeza, e a tristeza virou sorriso...
Mas mais era sempre preciso...
Dizia a tristeza cega ao sorriso surdo-mudo:
- Estou triste, mas ainda não consigo te ver chorar ou rir.
Dizia o sorriso surdo-mudo à tristeza cega:
- Estou feliz, mas ainda não consigo te ouvir rir ou chorar.
Era tão precioso o amor entre os dois, que eles resolveram jogar o sorriso e a tristeza fora, bem longe, embora... Então trocaram seus olhos e ouvidos... E todas as suas cores-dores nos corredores dos sentidos. E todos os seus suores-sons. E todos os seus tons, bons ou ruins... Trocaram seus prazeres e seus ruídos: seus gemidos, seus silêncios.
E viram bem e ouviram bem a tristeza e o sorriso... E o chorar e o rir {precisos na imprecisão do tempo} no tempo um do outro. Como alguém que encontra uma supernova cadente no céu...
Então eles amassaram aqueles papéis escritos e amarelados contendo luas já passadas, e os jogaram na gaveta da memória de um cometa sem rumo. E nele viajaram até a constelação do nada, sem papéis; somente sentimentos e sentidos. E viveram vendo e ouvindo tudo como nunca.
Mas mais sempre era preciso...