A fina e rara flor da hipocrisia
Pode alguém amar as letras
Ao tempo em que estupra essa semântica,
Ou forja a espada para calar na garganta
O sagrado grito de liberdade?
Cúmulo da contradição.
Não existe aí o pior e mais nefasto da hipocrisia,
Cravar punhais às costas de um amigo?
Assim me comparo.
O nobre das letras faz-se terno,
Compõe as mãos em concha
E dá de beber àquele que muito tem sede.
E isto com aquela delicadeza
De quem carrega nos braços o próprio coração.
O mais triste é o ser hipócrita sozinho.
Eu, o hipócrita solitário desse belo mundo,
Tão cheio de pessoas autênticas e originais.
Eu, um reles poeta decadente e hipócrita,
Um arremedo de escritor mais amante da hipocrisia.
Sim, eu, somente eu, que não mereço nada,
Senão o teu olhar espúrio de indiferença.
Porque ninguém se reconhece hipócrita,
Porque todos são perfeitos e bem acabados,
Porque todos sabem que
Somente eu, “euzinho” aqui, sou o hipócrita.
Milton Filho/03.08.13
...
A visita da senhora morte
Não há mais nada a dizer.
Tudo já foi dito,
Neste breve aperto de mão.
Boa noite, senhora, como vai?
Esta foice é para fazer fita,
Ou vai mesmo cortar meu pescoço?
Se for possível seja lenta, sem dor,
Assim posso me despedir dos amigos
E mandar o resto tomar no cu.
MF.03.08.13
...
Morte
Todos os dias me pede em namoro
E todos os dias não resisto e morro,
E torno a viver esse resto, essa migalha.
O teu beijo, eu sei, será roubado; um latrocínio.
Olha, já começo a avaliar tua proposta,
Ando já muito cansado dos canalhas!
Milton Filho/15.08.13