MÃOS À OBRA
Deixem-me em paz; não tenho remissão.
É muito tarde para acreditar
Que algo, para melhor, possa mudar.
Já sucumbi a tanta decepção!
Rebelde sou, porque esta humanidade
Porfia, em vez de pão, dar-me veneno;
Vindo a sorvê-lo, já, desde pequeno,
Não acredito em solidariedade!
Da teoria à prática, os abismos
Foram sempre impossíveis de transpor.
Quem corra o mundo, procurando o amor,
Encontra, em seu lugar, só egoísmos!
Ditam-se leis, que alguém irá cumprir;
Acabam de sair dum gabinete.
Quer a metralhadora ou a cacete,
Às ordens ninguém ouse resistir.
O que esperam de mim? Sou revoltado,
Leal, sem máscaras de hipocrisia.
Comprar sorrisos choca, e é vil mania,
Que ultraja sempre o mais necessitado.
Quem diz que os homens são todos irmãos,
É sonhador ou pouco inteligente:
Trabalhar mais é ser mais indigente;
Lucram, de pé enxuto, os maiorais.
Tentar que vença a força da razão,
Será mesmo ignorar realidades.
Que eu morra, sim, mas sem calar verdades!
Nunca um fraco terá opinião!
Sorrisos, punhaladas à mistura,
Deviam ensinar-nos a lutar.
Exijamos, foi ganho a trabalhar,
O pão. E abaixo toda a escravatura!
Amigos: labutar com dignidade,
Não é encher a pança aos sugadores!
Aniquilar, sem dó, esses traidores,
Eis a libertação da Humanidade!