DOCE MARTÍRIO
Amar sinceramente a um alguém,
É desejar ventura ao seu redor.
Ver no mal que nos faz apenas bem;
É suportar com ele a sua dor!
É ser, enfim, escravo voluntário
Daquele ser que só nos maltratou.
Quase feliz, levar para o calvário
A cruz que um lindo sonho destroçou!
Funesto quão sincero este amor,
Nascido, para dar cabo de mim!
Teve início, tal como a minha dor;
Contudo nenhum deles terá fim!
Bem sabes como vivo amargurado,
Vendo outrem ocupar o meu lugar!
Os braços cruzarei, aniquilado,
Já que será inútil protestar!
Terei de suportar este castigo,
De ver-te dar a outro o coração!
E tudo aceitarei, chamando “amigo “
Ao homem que desfez minha ilusão?!
Não consigo enfrentar esta verdade,
Demasiadamente dolorosa!
Às vezes dois bem menos, falsidade,
Se não matas os sonhos cor-de-rosa!
Depois, quando eu te vir a outro unida,
Que paradoxal dor vem até mim!
Será melhor morrer, desejar vida?..
Resolvi conservá-la, até ao fim…
Na morte eu via o fim de tanta dor,
Porém neste refúgio há cobardia!
Viver será sofrer o dissabor
De ver outro na tua companhia!
Porém se a pura luz desses teus olhos
Existe apenas para enfeitiçar,
Ferido, viverei, por entre abrolhos,
Pois se morrer… terei que te deixar!
Quando chega ao domingo, vais-te embora;
Que amargas horas tenho de passar!
Porém não fico só, por ter agora
Saudade inconformada, em teu lugar!
Sabendo que outro irás falar,
Trocar talvez carícias, que tormento,
Mesmo assim tento não desanimar:
Quando regressas, volta o meu alento…
Prefiro a tudo um só dos teus carinhos,
E sei que não são meus, infelizmente!
Risonho, ando a trilhar falsos caminhos,
E neles me detenho, persistente…
Irá cicatrizar esta ferida?
Poderei eu achar outra afeição?
Quem adivinha o rumo desta vida?!
Já não te posso ouvir mais, coração!
Vai suplicar àquele que ela ama,
Que a faça venturosa, eternamente!
Mancebo, faz ditosa aquela flor,
Nascida num lindíssimo jardim!
Recebe e retribui o puro amor,
Que eu tanto desejava, para mim!
Envolve de ternura o seu viver,
Sendo um baboso pai dos seus filhinhos!
Que ela jamais se possa desprender
Dos teus braços, e viva em mil carinhos!
Porém, se vais causar-lhe desventura,
Que vivas no pior dos sofrimentos.
Que a morte mais cruel, sem sepultura,
Seja a parte menor dos teus tormentos!