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Que apenas assim seja.
Um dia poder-me-ia esvaziar de mim,
dos poemas rasgadas sem mar, sem barcos
no horizonte, sem estrelas anunciadores de terra firme,
ou,
das margens opressoras,
e, mesmo que tudo não passasse de imagens vãs, sem nexo,
nomes esquecidos, faces irreconhecíveis,
convulsões,
dir-te-ia das esperas pelo nascer da alvorada,
apenas.
E, falam-me dos lobos do mar, dos nenúfares que ficaram para trás,
dos silêncios que os ecos repetem sem parar, desses órfãos de ninguém
que acompanham as viagens intermináveis dos sonhos,
desse outro escondido entre as escarpas violentas das noites,
das procelas maiores que furacões,
nomes desfigurados,
sejam.
Abrir-se-ão janelas pelo sopro do cavalo do vento,
retendo caçadores de baleias agonizando pelo vazio
de redemoinhos,
e os rios, furiosos, engolirão carvalhos arrancados pela raiz,
como um bocejo,
nesse mesmo dia.
…
[poder-me-ei alhear das palavras por um dia,
do mar que não existe de tanto areal
que as dunas escondem, por tantos outros dias,
restarão medusas, conchas, corais desalinhados,
ou aves que migram pelo verão, procurando novos pousos,
sempre.]
Loucos.
(Ricardo Pocinho)
“(...) As pessoas perdem o nome, as coisas limpam-se, cessam a fuga do espaço e o movimento dispersivo do tempo. Fica um núcleo cerrado. Fico eu.”
(Herberto Helder “Photomaton & Vox”)