Hão de chorar por ela os cinamomos,
Murchando as flores ao tombar do dia.
Dos laranjais hão de cair os pomos,
Lembrando-se daquela que os colhia.
As estrelas dirão — "Ai! nada somos,
Pois ela se morreu silente e fria.. . "
E pondo os olhos nela como pomos,
Hão de chorar a irmã que lhes sorria.
A lua, que lhe foi mãe carinhosa,
Que a viu nascer e amar, há de envolvê-la
Entre lírios e pétalas de rosa.
Os meus sonhos de amor serão defuntos...
E os arcanjos dirão no azul ao vê-la,
Pensando em mim: — "Por que não vieram juntos?"
Alphonsus de Guimarães.
(1870 - 1921)
Escola literária: Simbolismo/Neo-Romantismo.
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É o mais bonito e mais sentido soneto da nossa Literatura...
Soneto (= pequeno som) é um tipo de poesia de forma fixa (tem origem na Itália - entre os séculos XII e XIII) composta de catorze versos, divididos em quatro estrofes, sendo dois quartetos (quatro versos) e dois tercetos (três versos), geralmente, decassílabos (dez sílabas poéticas) com rimas no seguinte esquema de rimas: a-b-a-b/a-b-a-b/c-d-c/e-d-e.
No primeiro quarteto, a perda da amada é tão sentida que o poeta projeta na natureza todo o seu sofrer, ou seja, os cinamomos, aqueles que choram, murcharam até o final do dia, os laranjais, vão deixar cair os pomos quando sentirem a falta daquela que os colhia.
No segundo quarteto até as estrelas sentem a perda da amada (do poeta) e choram "a irmã que lhes sorria".
No primeiro terceto a Lua também sofre com a perda.
No segundo terceto, os arcanjos, no céu, ao vê-la, vão lamentar a perda dele:
-"Por que não vieram juntos?"
Augusto de Sênior.
(Amauri Carius Ferreira)
(FERREIRA, A. C.)
Augusto de Sênior
(Amauri Carius Ferreira)
(FERREIRA, A. C.)