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É preciso levar os outros a sério.
O semelhante,
amado ou odiado,
propriamente,
deve ser sempre a gota d'água
da tempestade no copo.
É preciso encarar os fatos
das faces que se fazem
a cada interação.
Ninguém sai ileso
de um encontro, não.
Levamos os outros a sério
para que nos levem
seriamente.
E fazemos poses
de topografias coreografadas
aprendidas no imaterial
manual
sobre como ser pessoa.
A resposta está no outro,
em todos outros.
Personagens imperfeitos
refletidos no meu espelho social.
Ser ou não ser não é a questão.
Ser é sina.
Até que o pulmão enjoe de ar,
até que o sangue
deixe de o coração disparar.
É no ato de embrenhar-se
na profissão de ser
que a questão instituiu moradia.
O X da questão.
O imposto cobrado
pela propriedade de um instante-já.
Eu os tenho todos,
voláteis, fluídos,
evanescentes e infinitos,
inseridos no tempo
e espaço de mim,
como lócus.
Eu sou,
pertenço
e tenho direitos autorais
de cada instante
que participo.
Posse fátua,
porém única.
O passado não nos pertence,
o futuro é imaginação
da infinitude do instante imediato.
Futuro é querer.
Não fazemos o que queremos,
não queremos o que fazemos...
Naveguemos!
Nesse rio vida
que corre eterno
e a cada passo
é um novo rio.
Continuidade quântica.
Eu quero beber o rio
e engasgar de vida.
Eu quero a musa Polímnia
em inspiração de polidipsia.
Tudo isso aqui é sério!
A mulher que me vende o pão,
o motorista do caminhão,
aqueles a quem digo não,
por não ter trocados
(só cartão).
Todos aqueles a quem pensei
entregar o coração,
os inimigos,
o irmão.
As filas de banco
e as pessoas paradas na estação.
Tudo é sério para poder ser
e apodrecer como é
no manual,
a contingência social,
a estrutura da moral,
para além do bem e do mal...
até Nietzsche é sério!
Assim como o louco, no hospital.
Não leve esse poema a sério.
Ponto quase-final.
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