A mim chega o tamborilar dos martelos,
Ecos em paredes que cantam para mim,
O rufar de um chão avassalado por multidões,
Por multidões que vibram cordas do meu sentir.
Anseio o frenético tocar das campainhas;
Visitem-me e rebentem-me, flautas e sinos!
Rebentem os meus tímpanos com o troar das pandeiretas,
E ruffestumpumpampim, façam-me ouvir, façam-me sentir!
Ó sinfonias, Beethoven e Mozart! Ó divinas orquestras pagãs!
Violinos que estremecem o silêncio que eu não quero ouvir,
Não quero, não quero ouvir!
Os meus dedos sentem clarinetes na pena que desenha claves,
Claves de Sol e Dó e dor nas sílabas dum verso estridente.
Quero barulho, agitação, ruído, AH! contrabaixos e violões,
Afastem de mim os meus pensares, sons-barreira da razão
Que me dói, da realidade que só tem música na tragédia,
Nos beberrões que cantam dores,
Nos ecos de armas disparadas em vão,
No ressoar de bombas caídas e cânticos de vingança
E melódicos choros!
Silêncio, que se vai cantar o fado? Mas que me importa o fado?
Que me interessam destinos que não posso controlar
E saudades de vidas que não são minhas?
Para que quero as minhas reflexões
Se tenho a música para me preencher?
Venham a mim, sons estrangeiros!
Façam toc-toc na minha porta,
Imitem o plim-plim dos triângulos!
Inspirem o fôlego da gaita de foles;
Dispam-se das vossas vergonhas e venham-me alegrar!
Faremos a marcha nupcial e o funeral da quietude!
Adeus ao adagio, à languidez; que venha fogo, fúria e julgamento!
Que se libertem de mim as vozes cantantes do sofrimento
E que se calem os murmúrios do ventre sem alimento!
Acordeões e harpas – serão meus os dedos que vos dominam,
É minha a alma que vos quer audíveis e andantes!
É minha a dor que o silêncio salienta,
São os meus pensamentos num eterno derramar...
Porque para a paz, oh, a paz,
Eu sei que não há mais lugar.