Há um relógio de parede avariado na primeira casa onde morei desde que estou em comissão nesta cidade. Os ponteiros das horas e dos minutos estão parados. Todavia, o ponteiro dos segundos, avança e recua em cada segundo.
Tenho a impressão que as horas estavam certas no primeiro dia por estas paragens. Acho mesmo que acertei os meus dois telemóveis por esse relógio de parede. Noutro dia qualquer é que eu me apercebi do que realmente se passava.
Neste momento moro noutra casa, no outro lado da cidade. Houve necessidade de obras urgentes na casa velha. Intervenções de fundo, ao ponto de tirar o telhado do prédio.
Costumo lá ir sempre que estou de licença, não só para ver a caixa do correio. Tornou-se um ritual no qual eu mato saudades e revivo a minha vida de bairro no que foi o meu primeiro ano de comissão.
Ontem ao tentar dormir lembrei-me daquele relógio e fiquei preocupado. Será que o relógio ainda está lá? Nunca mais lhe prestei a merecida atenção. Será que ainda não morreu? Será que alguém o levou ou o deitou fora? Qual será o mecanismo por detrás daquela anomalia tão curiosa?
Logo na primeira oportunidade que surja vou tentar não me esquecer de espreitar pela sala atafulhada – lá dentro há sinalização de trânsito e tudo porque um dia tiveram de condicionar a circulação automóvel lá fora - e ver se o relógio está no mesmo sítio, com o som tique–taque a enganar a passagem do tempo.
É a vida!