"...Permita ao menos que este amanhecer reflita nos meus olhos
os albores da aurora alvissareira flutuando sobre o escuro..."
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Flashbacks de uma paixão
Madrugada! Quase surge o dia, mas a luz esmaecida da lua ainda vela
como querendo abraçar a noite, impedindo de trazer doces memórias.
Só, junto ao fogo solvido recordo antigas álacres imagens, devaneios,
entre os desenganos e mágoas, desditas tantas das horas fatídicas.
Permita ao menos que este amanhecer reflita nos meus olhos
os albores da aurora alvissareira flutuando sobre o escuro,
ouvindo ao longe cantar de um pássaro saudando o nascer do sol.
Foram muitas as vezes, que trêmulo, acordei no meio da noite,
imaginando seu corpo morno apegado ao meu, acariciando a face.
Foi a paixão que se apagou em você , meu amor que se esvaiu,
deixando-a tão despreocupada do antigo ardor quase esquecido.
Seu coração endureceu, não está mais disposta a perdoar;
punge a insana necessidade egoísta de fazer sofrer e esperar.
Resta apenas uma pilha de cinzas escuras, sofrível arremedo
de uma outrora chama viva que ardeu fugaz e expressiva,
gravando em mim, escrevendo com fogo, marcando indeléveis,
signos bons , todas as melhores páginas desta minha existência.
Meus olhos consternados, agora assistem esse varrer de sonhos,
todos dissipados volvendo ao nada, numa escuridão obscura.
Agora abandonado, nem o brilho dum raio de calor em mim reflete;
tudo se foi, somente amargo a triste perda imensurável e conjecturo:
assim sem amor, sem seus carinhos, foi tão doce estar apaixonado,
mesmo que apenas para ter comigo estas memórias majestosas,
ainda que tão expiadas são ao mesmo tempo tão doces em mim.
" ...descrevo sem fazer desfeita,
meu sofrer e meus amores
não preciso de receita
muito menos prescritores."