Parecia que estava para lá de tudo
Parecia mas não sabia ainda
Como chegar lá
O horizonte a equilibrar-se nos seus olhos
E ele a encolher-se
Sem saber como desenhar naquela tela
O infinito
Aquele emaranhado de cores
Eram agora um portal fechado
Uma mescla de tons sombreados
A caírem como quem cai
Na terra molhada
E não sabe que o sopro da chuva
É a beleza matinal
O orvalho de todas as madrugadas
Deixava-se seduzir pelas ameias
Que o prendiam ao passado
Queria tudo o que fosse para ele
Ainda um canto na inércia dos dias
O sol chegou cedo mas nem assim
Conseguiu abrir os braços
E deixou que o abraçasse
E lhe desse mais vida naquele lugar
Era o momento ideal para se saber vivo
Era aquele o caminho
O dormitório de todos os seus medos
E ele agora deitado sobre
As tábuas velhas e podres
Fazia daquele pedaço de chão
A sua razão
A sua condição
De homem enjeitado
Numa tela esquecida no sobrado
Dolores Marques - 2013