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O XICAREIRO MÁGICO

 
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Tia Ana tinha, na sua mesa de copa, um lindo xicareiro de tomar chá, branco com bolinhas pretas. Ela o chamava, carinhosamente, de “o meu xicareiro poá”. Cada xícara tinha o seu devido pratinho, para acompanhar os bons momentos de largas conversas em sua casa.
Quando estava sozinha, tia Ana tinha o costume de tomar seu chazinho sem escolher a xícara ou o pratinho “da hora”. Com um pensamento sempre distante, pegava a primeira xicarazinha que suas mãos alcançavam, e se deliciava com aqueles bons momentos de descanso e lazer.
Mas, o que tia Ana não percebia, é que o xicareiro, alem de muito bonito no seu poá de festas, era também mágico. E, por ser mágico, - coisa que só ele sabia -, as xícaras e os pratos trocavam entre si, pensamentos sobre ela e seus momentos de chá e/ou cafezinho.
- Ah! Isso não vale, - dizia uma xícara para outra -, a tia Ana só escolhe a fulana para beber o seu chá de todos os dias.
- É mesmo! – reclamava outra xícara (eram seis no total, e seis pratinhos), nós nunca chegamos na vez de estarmos em suas mãos bondosas...
Pois é, - dizia uma terceira xícara – também gostaria de saber como é o gostinho de carregar um chá para tia Ana beber.
- E o que dizer de nós! – diziam os pratinhos, em coro: - tia Ana só pega o fulano para fazer dupla com fulana. Gostaríamos tanto de saber como é sermos segurados pelas mãos dela....
- Eu já sei! – disse uma das xícaras mágicas. Vocês notaram o menininho que sempre vem visitar a tia Ana, com sua mãe? Ele é sobrinho dela. E se nós pudéssemos nos comunicar com ele?
- Boa idéia, querida, já que somos mágicas, podemos tentar nos comunicar com ele.
- Com certeza! disse outra, já mais calma. Dizem que as crianças também são mágicas. Quem sabe o menino vai nos entender?
Um momento de silêncio no xicareiro.
Parece que a idéia foi aprovada por todos, tanto xícaras como pratinhos. Só restava elaborar um plano para tentar o contato com o pequeno sobrinho de tia Ana. Assim, enquanto a noite caía e a casa descansava envolvida na escuridão, o xicareiro trabalhava num plano para que todas as xícaras e todos os pratinhos tivessem vez nas mãos de tia Ana.
No dia seguinte, a casa parecia ter acordado mais feliz. Os raios de sol entravam pela janela aberta, trazendo claridade e alegria, trazendo de volta a Vida, que, durante a noite, se aquietava.
As xícaras mágicas já tinham o seu plano para conversar com o gentil menino que visitava tia Ana, todos os dias da semana. Restava aguardar o momento oportuno, para o contato tão esperado!
Quando tia Ana passava pelo xicareiro, durante os afazeres do dia, as xícaras mágicas se alvoroçavam, rindo umas para as outras, esperando que o plano desse certo.
No meio da tarde – como sempre – o menino entrou na casa com sua mãe, e tia Ana foi preparar o chá da tarde, para tomar nas suas xícaras poás, que ela nem desconfiava que fossem mágicas.
O menino, enquanto as duas mulheres preparavam o tira gosto da tardinha, ficava sempre sentado vendo televisão, bem perto de onde estava o xicareiro. Emocionadas, as xícaras se prepararam para o seu plano de contato, esperando com todos os pensamentos das coisas, que a criança fosse tão mágica quanto elas eram.
O programa na TV parecia bastante interessante, pois o menino não desgrudava os olhos e os ouvidos da telinha. Mas, o som da televisão era a única coisa ouvida naquele cantinho da casa. O plano poderia dar certo.
Então, ouve-se um sussurro surdo entre as xícaras:
- Vamos lá, queridas! Todas juntas, agora!
Um leve tilintar tomou conta do xicareiro, mas o menino, aparentemente, não ouviu.
- Oh! Ele pensou que foi o vento! – disse uma delas, desconsolada.
- Ah! Eu acho que este menino não é mágico, - completou outra, mais desconsolada ainda.
- Irmãzinhas, não vamos desistir agora. Vamos tentar mais uma vez.
A um sinal, todas as xícaras e pratinhos reuniram novamente os seus pensamentos mágicos, e o xicareiro inteiro tilintou, agora de forma mais poderosa ainda. Seria impossível, o menino dizer que fora o vento a fazer barulho nelas.
- Será que ele é mágico? Sussurrou uma das xicarazinha para as outras...
Quando se deram em conta, o menino estava ao seu redor, olhando, observando o xicareiro, como a tentar imaginar de onde veio tanta força para o barulho que elas fizeram.
- Vamos, menino, seja mágico! Seja mágico!!! – suplicou uma xícara, aguardando junto com as outras, um sinal de que ele pudesse entende-las.
O menino admirou a beleza do xicareiro, segurou um pratinho entre suas mãos, a cariciou uma xícara, e ficou pensativo, como se tentando adivinhar o que estava acontecendo.
- Meninas, mais uma vez: vamos tilintar todas juntas. Agora vai ser impossível ele não notar que queremos nos comunicar.
E, novamente, um tilintar alegre e forte tomou conta do xicareiro, deixando o menino atento e curioso. Chegou mais perto, e perguntou, baixinho:
- Quem está aí?
- Oba! O menino é mágico! Oba! Oba.... oba.... – exclamaram todas juntas. A magia deu certo!!!
E, dirigindo-se ao menino, com sussurros baixinhos, todas queriam falar ao mesmo tempo. Mas, uma xícara que parecia ser mais ajuizada, perguntou~lhe de forma alegre:
- Menino mágico, como é o seu nome?
- Meu nome é Pedro. Podem me chamar de Pedrinho. Posso perguntar o que está acontecendo?
Então, o xicareiro poá de tia Ana ficou quieto, enquanto uma das xícaras contava a Pedrinho o seu drama de querer – todas elas – serem seguradas pelas mãos dela, mesmo que uma vez por semana, e falaram do seu plano para o menino poder ajuda-las de alguma forma.
Pedrinho ouviu a estória, olhou para o xicareiro com olhos curiosos, e perguntou:
- Mas, para que vocês querem que tia Ana tenha todas em suas mãos?
- Porque nós somos xícaras mágicas – assim como você – e sendo mágicas, queremos ser Bondade para os seres humanos. Todas nós queremos sentir a maravilha de sermos Bondade, para tia Ana, quando ela descansa e toma o seu chazinho de todas as tardes. Sabe, Pedrinho, as coisas mágicas não podem ficar abandonadas, nem esquecidas..... xícaras mágicas fazem as pessoas agradecerem pelos momentos de lazer, e pelo alimento que elas tomam, sem perceber o quanto é maravilhoso saber agradecer a Deus, à Vida, à Natureza, tudo o que foi feito com Amor e por Amor.
Pedrinho sorriu, comovido:
- Está bem, minhas amigas. Eu tenho um plano que parece ser bom, e vai ajuda-las a espalhar Bondade nas mãos de tia Ana. Ouçam o que vou fazer: - todas as tardes, quando eu e minha mãe chegarmos aqui, vou colocar xícara e um pratinho diferente nas mãos de tiazinha. Assim, todas vocês terão o prazer de sentir alegria para servir com Bondade o chá que ela beber em cada uma. Cada dia, será outra xícara e outro pratinho, que ela segurará, sem perceber, mas garanto que ela sentirá felicidade quando cada uma de vocês puder estar em suas mãos.
No momento em que tia Ana e sua irmã entravam na copa, para preparar a mesa para o chá da tarde, o xicareiro inteiro tilintou alegremente, e se despediu de Pedrinho, agradecido. Pedrinho sabia que nunca mais voltaria a conversar com o xicareiro, pois crianças e coisas mágicas não podem ser encontradas por qualquer pessoa, má intencionada. Correu para ajudar a mãe e a tia na arrumação da mesa, e sorriu, quando tia Ana reclamou do barulho que o vento fazia no seu xicareiro de poá, todas as vezes em que ela se preparava para o seu chá de todos os dias.

Saleti Hartmann
Poetisa e Professora
Cândido Godói-RS
20/07/2013

(Fernando / Sadi) – in memoriam








 
Autor
SALETI HARTMANN
 
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