Literalidades
Vi num telejornal que os meninos
Estavam bebericando pelo cu.
Não deixa hálito, passando desapercebidos
Pelos fiscais de plantão.
Assim é que o velho palavrão,
Vai tomar no cu,
Agarrou a literalidade e perdeu
Sua graça explosiva.
Fiquei imaginando, também,
Se no caso de uma boa ressaca,
A dor será em qual das cabeças.
Milton Filho/27.07.13
Em tempo:
Esta notícia é verídica. Ouvi isso três meses passados.
Ao ler o poema, este, para um amigo, fiquei sabendo
de uma nova modalidade: Tomar vodca pelo olho
para atingir determinado “barato”.
Bem, pensei em mudar o poema, diante do bizarro.
Mas resolvi economizar.
É chocante a degenerescência do ser que se propõe humano.
E ficar pasmo está deixando de ser incomum, aliás,
ficar com cara de pateta diante dos fatos, desses fatos,
virou o nosso cotidiano.
Ficamos com essa impressão estranha de que nós
é que estamos plantando bananeira, não eles.
Alguns meses passados, assisti a uma entrevista
de um jogador de futebol que dizia ter levado
um “esporro, literalmente falando...”, do seu
referido técnico.
Quase tenho um colapso ao ouvir essa pérola e,
logo após, imaginar a cena ejaculatória.
“Literalidades” quer brincar com esses equívocos
surreais, que buscam, à força de repetição,
uma cidadania espúria e degenerativa,
em línguas e 'vias de fato'.