dedico este poema à minha mulher.
se minha mala se abrisse
em meio a uma ventania
e tudo o que é importante
naquele vão de poliéster
ganhasse novo sentido
ou voasse na contramão
fosse ao pé do teu ouvido
te lembrar de comprar pão
se dentro daquela mala
tivesse tanto dinheiro
tivesse um plano infalível
uma passagem pro cairo
um par de calças de inverno
para usarmos com esqui
um bilhete premiado
um cheque gordo sem fundo
todos os males do mundo
se todas as falcatruas
e as bondades que já fiz
flutuassem pelas ruas
na ponta do seu nariz
onde tem um pincenê
que em você fica tão lindo
e se todos os meus dados
aos olhos do mundo todo
caíssem pra cima em seis
eu podia jogar de novo
podia nascer outra vez
e se a vida fosse o elástico
que prendesse os meus papéis
se eu fosse feito de plástico
e se eu me dobrasse em dez
se pedra fosse confete
e se eu fosse o carnaval
mas já se abriu o sinal
e tudo agora está verde
vou ver se está tudo aqui
se todos aqueles males
flutuaram pelas ruas
e se os planos infalíveis
pra que fôssemos pro cairo
fazer passeios de esqui
precisam de um pincenê
nos olhos do mundo todo
se você lembrou do pão
em meio a uma ventania
se meus dados deram seis
foi da mala que eu abri